01 julho 2010

Entre_linhas 91 (1jul2010)

A crise que o mundo atravessa tem obrigado muitas pessoas e entidades a reflectirem naqueles que têm sido os seus hábitos de consumo e de realização de despesa. Direi mesmo que esta fase terá mesmo o mérito de fazer com que haja, em muitos casos, um ajustamento do nível de despesa às reais necessidades e possibilidades. Este raciocínio aplica-se, evidentemente, a pessoas individuais, às empresas e, por maioria de razão, à própria administração pública, central e local. Por exemplo, a Câmara Municipal de S. João da Madeira apresentou um plano de contenção da despesa no sentido de equilibrar a situação decorrente da quebra de receita, sendo que uma das medidas passa pela extinção da empresa municipal de transportes «Mobilida S. João». De facto, a moda da criação de empresas municipais pegou por esse país fora, sendo usado, por diversas vezes, esse expediente numa tentativa de contornar os limites de endividamento que a lei obriga ou atenuar algumas ineficiências dos próprios serviços. Neste caso da empresa «Mobilidade S. João», confesso a minha ignorância, mas nunca percebi a verdadeira razão para a sua criação. Uma boa notícia para os contribuintes, portanto!

Uma outra medida que está prevista é a redução da factura com electricidade. Parece-me bem o objectivo, mas o método para lá chegar é que não será, de todo, o mais adequado. De facto, se em nossas casas não acendermos as nossas luzes, a factura com electricidade reduzir-se-á ou se não tomarmos banho pagaremos menos em água e em gás. Contudo, a nossa qualidade de vida também baixará drasticamente. Ora, o Presidente da Câmara fez referência à redução, em vigor há vários meses, da iluminação pública depois da meia-noite, uma medida que nem sequer nos dá a conhecer o impacto na factura com electricidade pelo facto “das leituras da EDP serem realizadas semestralmente”. Claro que se a iluminação pública estiver permanentemente desligada, isso ajuda a baixar a factura. No entanto, o sentimento de insegurança dos cidadãos aumentará e os riscos de acidentes nas nossas ruas também se agravará. Existem municípios por esse país fora a pensar também nesta questão da eficiência energética como uma oportunidade para baixar despesa e poupar energia e o ambiente. Para tal, estão a utilizar-se, por exemplo, novas tecnologias na iluminação pública (LEDS), apenas para dar o exemplo da poupança em termos de electricidade. Esta poderia ser, pois, uma oportunidade para a tomada de decisões estratégicas ao nível energético. Mas para tal será preciso fazer-se luz!

O comandante da esquadra da PSP de S. João da Madeira, em entrevista ao Labor, confrontava os sanjoanenses com alguns números decorrentes da actividade daquela força de segurança. Um dos assuntos abordados dizia respeito às acções desencadeadas no combate à droga, um assunto recorrente neste tipo de entrevistas. Ora, esta é uma oportunidade de recuperar aqui algumas pergunta que fiz numa edição anterior sobre o extinto projecto «Prevenir o Futuro». Por exemplo, quais foram os tais “resultados palpáveis” conseguidos? Quantos toxicodependentes aderiram voluntariamente ao projecto e quantos conseguiram deixar a sua situação de dependência? Qual foi o montante total envolvido na execução do projecto e quais foram as fontes para o seu financiamento? Este “ensaio de uma nova forma de intervenção”, que passou por um modelo de desabituação física diferente do tradicional, foi posteriormente adoptado noutras experiências ou não? Houve validação científica desse modelo ou não passou de uma experiência isolada? Que falta fazem as respostas a estas questões!

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