19 junho 2009

Europeias de A a Z

Abstenção. Palavra mais ouvida por essa Europa fora, após o apuramento dos resultados oficiais. Em Portugal atingiu os 63,2%, um valor superior ao registado em 2004 (61,3%). Importa reflectir o que leva tanta gente a ficar à margem das escolhas dos seus representantes democráticos.


Bloco de Esquerda. Um dos partidos vencedores destas eleições. Conseguiram eleger 3 deputados, atingiram o estatuto de 3º partido político com mais votos e tiveram mais 215 mil votos do que em 2004. Parece certo que muito do eleitorado que tradicionalmente vota PS se deslocou nestas eleições para o Bloco e o PS não poderá ignorar este sinal.


Castro Almeida. Apesar de pertencer a uma das famílias políticas vencedoras, não deixa de ser um dos derrotados. Não nos podemos esquecer que foi um dos opositores à solução apresentada pela líder do PSD para cabeça de lista. Apesar de tudo, lá estava, na noite da consagração, a festejar a vitória do grupo. Tudo normal em política!


Durão Barroso. Tem a reeleição como Presidente da Comissão Europeia praticamente garantida. A sua família política mais directa venceu e conta ainda com o apoio de alguns socialistas. A Matemática não perdoa!


Europa. Acaba por sair fragilizada por dois motivos. Por um lado por causa da elevada taxa de abstenção que se registou na generalidade dos países (57%) e, por outro, pelo facto de terem sido eleitos representantes de partidos de extrema-direita e euro-cépticos. Não vai ser fácil segurar os 736 deputados eleitos!


Ferreira Leite. Teve uma vitória inequívoca, com mais votos e com mais deputados eleitos que qualquer outro partido. E isto após uma escolha interna não consensual de Rangel para encabeçar a lista. Não lhe podia ter corrido melhor a noite!


Governo. Ouviu-se falar em ilegitimidade na governação nos próximos meses, enquanto não se realizam as legislativas. Era só o que nos faltava termos agora o país parado, em plena crise, com as empresas e os cidadãos a necessitarem, mais do que nunca, de apoio. Obviamente deve continuar a resolver os problemas do país.


Hortaliça. Voltamos a ver Paulo Portas pelas feiras e a insistir no discurso defensor da agricultura. Hipocrisia podia ser igualmente a palavra escolhida para esta estratégia!


Irmãos Portas. Não deixa de ser curioso vê-los, de lados diametralmente opostos, a lutarem pelas suas convicções. Ganharam os dois!


José Sócrates. Um dos derrotados da noite, enquanto secretário-geral do Partido Socialista. Assumiu-o na própria noite eleitoral mas deixou bem claro que a perda desta batalha não o faz perder ânimo na governação. Determinação não lhe falta!


Legislativas. Há quem queira antecipar os resultados das próximas legislativas olhando apenas para o resultado das Europeias. São momentos eleitorais muito diferentes e os eleitores sabem bem isso. Só em Setembro é que os portugueses escolherão um Governo e um Primeiro-Ministro entre as opções que já estão em cima da mesa.


Mobilização. Esta derrota do PS servirá, estou certo, para mobilizar não só os militantes mas também todos os portugueses para os tempos que se avizinham. O que está em causa agora é a escolha do próximo Governo e isso levará mais gente às urnas. Este abanão acaba por ter este lado positivo!


Namoro. Obviamente que a soma dos votos do PSD e do CDS-PP (40%) já originou uns piropos entre estes dois partidos que, num passado recente, já estiveram casados. Há a possibilidade de isso voltar a acontecer mas para tal terão que iniciar novamente o namoro. Vejamos o que as próximas semanas nos reservam!


Ouvir. Há que saber fazê-lo nos próximos meses. Ouvir as pessoas, perceber o que as preocupa e o que anseiam, numa lógica de proximidade. Este aspecto será crucial na estratégia de qualquer partido.


PCP/PEV. Esta coligação (CDU) manteve dois eurodeputados e teve mais 70 mil votos do que em 2004. No entanto, foram ultrapassados pelo Bloco o que não os deve deixar totalmente tranquilos.


Queda. O PS teve-a de forma bastante acentuada. Perdeu 5 deputados e mais de meio milhão de votos. A reflexão será imprescindível!


Rangel. De praticamente desconhecido, após passagem pela liderança da bancada do PSD na Assembleia da República, venceu o combate. Usou muitas vezes a arma da demagogia e centrou toda a estratégia na discussão dos assuntos internos de Portugal, relegando para segundo plano a discussão em torno da Europa. Uma estratégia que acabou por sair vencedora, apesar de tudo!


Sondagens. As publicadas em Portugal saíram quase todas furadas. Na noite eleitoral os administradores das empresas autoras das sondagens não devem ter dormido tranquilamente. E não é motivo para menos!


TIC. Foi interessante verificar a utilização de tecnologias por parte dos vários partidos na comunicação com os eleitores. A Internet foi, de facto, um canal importante para a propagação das mensagens. E ainda bem!


União Europeia. Precisa de resolver ainda alguns problemas internos que impedem a criação de um espaço único com o qual os cidadãos dos 27 Estados Membros se identifiquem. A elevada taxa de abstenção por toda a Europa assim o demonstra. Era útil, por exemplo, a entrada em vigor do Tratado de Lisboa.


Vital Moreira. Protagonizou uma campanha digna, tendo sido o alvo dos fortes ataques contra um Governo que, apesar de tudo, é suportado pelo Partido que apresentou a lista que o teve como cabeça. Tentou falar da Europa mas nos outros 12 partidos, não encontrava qualquer interesse em falar do tema. Como socialista, estou orgulhoso do seu desempenho.


Xutos e Pontapés. “Sem eira nem beira” foi uma música deste grupo rock que muitos tentaram transformar num manifesto contra o Governo. E isto apesar do próprio Zé Pedro ter referido que qualquer aproveitamento da música para criticar e contestar o Governo não iria receber a solidariedade do grupo.


Zimbabwe. Dos 286 inscritos neste núcleo de emigração, só 13 foram votar. O CDS e o PSD tiveram 6 votos e o Bloco 1 voto. Curioso o facto de ter sido com os votos da emigração que o Bloco conseguiu a eleição do terceiro deputado.

Artigo publicado no Jornal Labor de 18 de Junho de 2009.