17 junho 2009

A força do PS!

Ainda bem que do lado do Partido Socialista ninguém tentou transformar a derrota nas Europeias numa outra coisa qualquer. Foi importante para todos que os números finais fossem interpretados de forma clara e inequívoca. O PS perdeu, de facto, as eleições e esta realidade deve obrigar-nos a uma reflexão profunda, séria, aberta e frontal.

Do meu ponto de vista, o resultado obtido pelo PSD (31,7%) não é extraordinário, embora a vitória tenha sido importante para arrumar a casa e para a mobilização em torno da actual liderança. Utilizando a gíria futebolística, numa equipa que ganha não se mexe e, portanto, sabemos já que Manuela Ferreira Leite será a candidata a Primeira-Ministra nas próximas legislativas. E isso é bom para o PS!

Na verdade, se olharmos para trás, o que sabemos nós do pensamento de Ferreira Leite sobre os mais variados assuntos? De que falou ela para além de finanças públicas e da oposição à opção pelo investimento público? Que pensa ela do sector da Educação, Ensino Superior ou da Justiça? Que ideias apresentou para a Cultura ou para a Ciência? Que soluções tem para a Saúde, Segurança Social ou Segurança Interna? Qual a sua opinião sobre as Redes de Nova Geração ou sobre a utilização de tecnologias no Ensino? Qual o seu posicionamento em relação à opção pelas energias renováveis e como pensa ela apoiar as PME’s nesta época de crise? Qual a sua estratégia para melhorar a competitividade do país e a qualificação dos portugueses? Que tem a dizer aos agricultores, aos pensionistas, aos estudantes ou aos professores? E sobre o sector da comunicação social, políticas de emprego ou ambiente, ordenamento do território, reforma e modernização da administração pública, defesa, relações externas ou política europeia, que nos tem a dizer a líder do principal partido da oposição?

Manuela Ferreira Leite, na verdade, não diz nada, sobre nada, a não ser sobre finanças públicas e investimentos públicos. Não foram certamente as ideias do PSD e da sua líder que motivaram os portugueses a conceder-lhes uma vitória nas europeias. E se nestas eleições, embora devesse fazê-lo, até nem tinha que falar dado que nem era a cabeça de lista, já para as legislativas o cenário muda de figura. Manuela Ferreira Leite vai ter que falar aos portugueses sobre várias áreas, vai ter que se expor e dar-se a conhecer. E aí os portugueses vão tomar consciência daquilo que não podem escolher para a condução dos destinos do país.

Perante isto, julgo que o foco do PS para as próximas legislativas terá que ser orientado para duas frentes que não passam, sejamos claros, por reclamar os eleitores que votaram PSD. Em primeiro lugar, o foco deverá ser os 63% dos portugueses que não foram às urnas. Se considerarmos como razoável a taxa de abstenção registada nas últimas legislativas (35%), estamos a falar de perto de 3 milhões de eleitores que estarão dispostos a participar na escolha do Primeiro-Ministro mas que não se associaram, pelos mais diversos motivos, à escolha dos deputados europeus. Em segundo lugar, não podemos assobiar para o lado e fingir que o Bloco de Esquerda não existe. É precisamente para este partido que está a fugir uma grande parte do eleitorado do PS e, inevitavelmente, há que reconquistar a sua confiança. E estou certo que também este eleitorado que pretendeu, legitimamente, mostrar o seu descontentamento para com o Governo, pensará melhor nas consequências em confiar o seu voto num partido sem perfil para o exercício do poder.

Não há, portanto, outra saída. O PS terá que se impor pelas suas ideias em contraponto com o vazio que se verifica do outro lado, naquela que poderia ser, eventualmente, uma possível alternativa a um Governo PS. E estas ideias devem ser apresentadas no seguimento de um profundo trabalho de auscultação da sociedade civil, das suas angústias e ambições. O PS deve saber ouvir os cidadãos, trabalhadores e empresários, os agricultores, os desempregados e as forças de segurança, jovens e menos jovens, utentes de instituições sociais e empreendedores sociais, os sindicatos e as classes sociais mais representativas. E deve fazê-lo no terreno, olhos nos olhos, e não apenas através de meios de comunicação indirectos que, embora necessários, não são suficientes.

Os portugueses precisam de conhecer com clareza aquela que foi a acção concreta deste Governo na resolução dos seus problemas e precisam também de sentir esperança no poder das ideias que o PS lhes apresenta, com humildade, ao mesmo tempo que lhes pede o voto. Se assim for, o PSD e o CDS-PP até podem ir coligados que não serão suficientes para derrotar a força do PS e a força das nossas ideias!

Artigo publicado no jornal Acção Socialista de 17 de Junho de 2009.

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