A passos de coelho!
O PSD requereu uma interpelação ao Governo sobre Competitividade da Economia e Execução do QREN. O debate ocorreu no passado dia 11 de Junho e mostrou que, de facto, o principal partido da oposição ainda não entrou num registo firme de coerência e responsabilidade.
Desde logo, pela forma escolhida pelo PSD para tentar demonstrar que o país está menos competitivo hoje do que estava em 2005. Para tal usou sobretudo a informação do ranking Global Competitiveness Index publicado anualmente pelo World Economic Forum (WEF). Dizia o PSD que entre 2005 e 2010 Portugal baixou 12 posições neste ranking o que mostra, segundo aquele partido, que o país está menos competitivo. Ora, já não vou falar da total ausência no discurso do PSD de qualquer proposta construtiva que possa promover a competitividade de Portugal. Agora, reduzir a argumentação utilizada no debate a este ranking parece-me, sinceramente, uma estratégia demagógica, frágil, perigosa e excessivamente irresponsável. Senão vejamos!
Em primeiro lugar, em 2005 foram considerados no relatório 119 países, enquanto em 2010 foram considerados 133. Isto quer dizer que houve países que quando integraram o estudo pela primeira vez (depois de 2005) se posicionaram à frente de Portugal. Dos 12 que o PSD fala, 4 estão nessa situação: Porto Rico, Brunei, Omã e Arábia Saudita.
Em segundo lugar, é preciso ver que tipo de países estamos a falar e que “campeonatos” estão em causa. Ora, os restantes oito países que nos ultrapassaram entre 2005 e 2010 foram os seguintes: Qatar, China, Emiratos Árabes Unidos, Tailândia, Kuwait, Tunísia, Bahrain e Chipre. Apenas este último é da União Europeia.
Em terceiro lugar, temos que olhar para as metodologias usadas na organização das edições do ranking de 2005 e 2010, que, na verdade, têm diferenças significativas. Aliás, a estrutura baseada em pilares de competitividade surge apenas para a edição de 2006, tendo o WEF recalculado a de 2005 com base na nova metodologia. Ora, em 2010, os 90 indicadores estão organizados em 12 pilares, enquanto que em 2005 os 89 indicadores estavam distribuídos apenas por 9 pilares de competitividade.
Em quarto lugar, o peso dos indicadores obtidos por percepção é bastante significativo, ampliando a subjectividade dos resultados. Por exemplo, em 2010, dos 90 indicadores usados para o cálculo do índice, mais de metade (52) são obtidos por percepção mas, como sabemos, muitas vezes as percepções estão longe da realidade. Não nos podemos esquecer que aspectos como “despesas I&D das empresas”, “acesso à Internet nas escolas” ou “crime organizado” são medidos, para efeitos deste estudo, por percepção e não com dados estatísticos objectivos que revelam que Portugal, como sabemos, tem apresentado desempenhos bastante positivos.
Em quinto lugar, há posições de países que nos devem obrigar a alguma cautela na identificação de conclusões. Para além de alguns dos que referi atrás que se posicionam à frente de Portugal, refira-se que a Islândia apresenta-se em 26º lugar e a Suíça, imaginem aparecem no topo da lista (1º lugar). Importa referir que, curiosamente, o WEF tem sede precisamente, na Suíça! Já para não entramos na discussão do posicionamento ideológico deste organismo que, obviamente, condiciona a estrutura e a metodologia do próprio ranking.
Eu sou dos que valorizam as informações constantes de rankings. Dão-nos sinais importantes e permitem-nos identificar fragilidades e potencialidades comparativamente com outros países, informações que podem ser relevantes no processo de definição das políticas públicas. No entanto, dizer, sem mais nada, que Portugal é hoje menos competitivo do que era em 2005 porque desceu 12 posições neste ranking do WEF é, no mínimo, bastante duvidoso.
É que, na verdade, entretanto, também surgiram outros rankings e indicadores por esse mundo fora que indiciam o contrário. Estou a falar de progressos reportados, por exemplo, ao nível da inovação, do investimento em Investigação e Desenvolvimento, da qualificação dos nossos recursos humanos e do aproveitamento dos nossos recursos energéticos, das exportações e da balança tecnológica, do registo de patentes e da criação de empresas, dos serviços públicos online e da modernização da administração pública, do desenvolvimento da banda larga e das redes de nova geração. Só que destes progressos o PSD não quer falar, mesmo que revelem maior competitividade de Portugal no panorama internacional. No ranking da demagogia, este PSD vai, portanto, direitinho para o topo! A passos não de caracol mas de coelho!
Artigo publicado no Acção Socialista de 28 de Junho de 2010.
Desde logo, pela forma escolhida pelo PSD para tentar demonstrar que o país está menos competitivo hoje do que estava em 2005. Para tal usou sobretudo a informação do ranking Global Competitiveness Index publicado anualmente pelo World Economic Forum (WEF). Dizia o PSD que entre 2005 e 2010 Portugal baixou 12 posições neste ranking o que mostra, segundo aquele partido, que o país está menos competitivo. Ora, já não vou falar da total ausência no discurso do PSD de qualquer proposta construtiva que possa promover a competitividade de Portugal. Agora, reduzir a argumentação utilizada no debate a este ranking parece-me, sinceramente, uma estratégia demagógica, frágil, perigosa e excessivamente irresponsável. Senão vejamos!
Em primeiro lugar, em 2005 foram considerados no relatório 119 países, enquanto em 2010 foram considerados 133. Isto quer dizer que houve países que quando integraram o estudo pela primeira vez (depois de 2005) se posicionaram à frente de Portugal. Dos 12 que o PSD fala, 4 estão nessa situação: Porto Rico, Brunei, Omã e Arábia Saudita.
Em segundo lugar, é preciso ver que tipo de países estamos a falar e que “campeonatos” estão em causa. Ora, os restantes oito países que nos ultrapassaram entre 2005 e 2010 foram os seguintes: Qatar, China, Emiratos Árabes Unidos, Tailândia, Kuwait, Tunísia, Bahrain e Chipre. Apenas este último é da União Europeia.
Em terceiro lugar, temos que olhar para as metodologias usadas na organização das edições do ranking de 2005 e 2010, que, na verdade, têm diferenças significativas. Aliás, a estrutura baseada em pilares de competitividade surge apenas para a edição de 2006, tendo o WEF recalculado a de 2005 com base na nova metodologia. Ora, em 2010, os 90 indicadores estão organizados em 12 pilares, enquanto que em 2005 os 89 indicadores estavam distribuídos apenas por 9 pilares de competitividade.
Em quarto lugar, o peso dos indicadores obtidos por percepção é bastante significativo, ampliando a subjectividade dos resultados. Por exemplo, em 2010, dos 90 indicadores usados para o cálculo do índice, mais de metade (52) são obtidos por percepção mas, como sabemos, muitas vezes as percepções estão longe da realidade. Não nos podemos esquecer que aspectos como “despesas I&D das empresas”, “acesso à Internet nas escolas” ou “crime organizado” são medidos, para efeitos deste estudo, por percepção e não com dados estatísticos objectivos que revelam que Portugal, como sabemos, tem apresentado desempenhos bastante positivos.
Em quinto lugar, há posições de países que nos devem obrigar a alguma cautela na identificação de conclusões. Para além de alguns dos que referi atrás que se posicionam à frente de Portugal, refira-se que a Islândia apresenta-se em 26º lugar e a Suíça, imaginem aparecem no topo da lista (1º lugar). Importa referir que, curiosamente, o WEF tem sede precisamente, na Suíça! Já para não entramos na discussão do posicionamento ideológico deste organismo que, obviamente, condiciona a estrutura e a metodologia do próprio ranking.
Eu sou dos que valorizam as informações constantes de rankings. Dão-nos sinais importantes e permitem-nos identificar fragilidades e potencialidades comparativamente com outros países, informações que podem ser relevantes no processo de definição das políticas públicas. No entanto, dizer, sem mais nada, que Portugal é hoje menos competitivo do que era em 2005 porque desceu 12 posições neste ranking do WEF é, no mínimo, bastante duvidoso.
É que, na verdade, entretanto, também surgiram outros rankings e indicadores por esse mundo fora que indiciam o contrário. Estou a falar de progressos reportados, por exemplo, ao nível da inovação, do investimento em Investigação e Desenvolvimento, da qualificação dos nossos recursos humanos e do aproveitamento dos nossos recursos energéticos, das exportações e da balança tecnológica, do registo de patentes e da criação de empresas, dos serviços públicos online e da modernização da administração pública, do desenvolvimento da banda larga e das redes de nova geração. Só que destes progressos o PSD não quer falar, mesmo que revelem maior competitividade de Portugal no panorama internacional. No ranking da demagogia, este PSD vai, portanto, direitinho para o topo! A passos não de caracol mas de coelho!
Artigo publicado no Acção Socialista de 28 de Junho de 2010.
Etiquetas: Opinião
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