12 novembro 2010

Entre_linhas 104 (11novembro2010)

Nos dias em que um dos meus filhos frequenta a piscina municipal, são dezenas as crianças e os jovens que estão dentro de água. Na semana passada, o tecto falso daquele equipamento caiu. Felizmente e só por mero acaso que este acidente acabou por ocorrer numa altura em que não estava ninguém dentro de água, evitando aquilo que poderia vir a ser uma autêntica desgraça. Há muito que está identificada a degradação das piscinas, não só no tanque, mas também nos balneários e outros espaços de apoio. Também a má organização daquele serviço tem vindo a ser denunciada por inúmeros utilizadores, tendo eu próprio, há umas semanas atrás, escrito neste mesmo espaço sobre o assunto. A insuficiência da estrutura para o desenvolvimento eficiente dos treinos de atletas de competição é uma evidência e a inadequação das instalações para crianças mais pequenas salta à vista de toda a gente. Mas à falta de organização e à degradação vem agora associar-se a falta de respeito pelos utilizadores. O mínimo que deveria ter sido feito era um simples telefonema aos utentes das piscinas, dando conta do ocorrido e do tempo previsto para a não existência de aulas, o que teria evitado que dezenas de pessoas batessem com o nariz na porta. Sabemos pelos jornais que nas próximas três semanas não poderá ser utilizada a piscina, sendo referido no site da Câmara que “o tempo necessário a esta intervenção dependerá das condições atmosféricas”. Sabemos também que o Presidente da Câmara terá afirmado que “construir uma piscina nova deverá ser mais barato do que remodelar a existente”, suscitando a dúvida se, de facto, as obras vão avançar ou não. É evidente para todos que nos últimos dias o mau tempo tem criado avultados prejuízos e danos em equipamentos públicos e privados. No entanto, dizer como se diz no site da Câmara que foi na sequência do temporal que se fez sentir no fim-de-semana que cederam algumas placas do tecto interior da piscina coberta, parece-me uma justificação redutora. Se a degradação das instalações não estivesse tão avançada, certamente que tal não teria ocorrido. Como é óbvio!

Há experiências marcantes na vida de cada um de nós. A semana passada estive quatro dias na Guiné Bissau para participar, como orador, num workshop. Esta viagem acabou por ser, para mim, uma dessas experiências que nunca mais esquecerei. Aliás, esta viagem constituiu mesmo uma lição de vida. Não tenho a capacidade para vos descrever o que, verdadeiramente, se passa naquele país ao qual estamos ligados, mas garanto-vos que ultrapassa todos os limites da degradação humana. A pobreza entra-nos pelos olhos dentro, a degradação das ruas, das casas, dos edifícios e das infra-estruturas mais básicas é uma dura realidade. Não há energia eléctrica, o lixo acumula-se nos passeios e é vasculhado aos nossos olhos por cães, abutres e crianças. O dia-a-dia na Guiné Bissau é mau demais para ser verdade, é uma vergonha para todo o mundo, incluindo para nós, portugueses, que tivémos particulares responsabilidade naquele território. Partilhei com os meus amigos do Facebook algumas fotos sobre aquilo que ia vendo mas nem as fotos descrevem a verdadeira dimensão do problema que existe naquele país africano. Numa lista de 169 países publicada pela ONU ainda esta semana, a Guiné Bissau encontra-se em 164.º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano, sendo sem margem para dúvida um dos países mais pobres do mundo. Mas não são só os números que o dizem. Esta semana foram os meus olhos que constataram. Não consigo deixar de sentir uma certa revolta interior em relação ao que se passa na Guiné Bissau. Como é possível que o mundo assista a estas situações e não dê passos firmes para dar mais dignidade à vida daqueles seres humanos? De facto, olhar nos olhos aquelas ternurentas crianças, foi das experiências mais importantes de toda a minha vida! Palavra de honra!

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