07 outubro 2010

Mesmo que não sejam Ferraris!

O vermelho do semáforo ordenou a paragem do trânsito em três faixas de rodagem no mesmo sentido. Na faixa do meio estava um Ferrari, novo em folha e com um roncar robusto, ladeado por duas viaturas obviamente mais modestas. O condutor da direita lança um olhar de inveja para o condutor do bólide ao seu lado e pensa: “Ainda te hei-de ver num carro como o meu, ó meu sacana”! Ao mesmo tempo, o condutor da esquerda, ao olhar para o vermelho vivo ao seu lado, começa a sonhar: “Ainda hei-de ter um destes”!

Esta história acaba por representar duas posturas na vida totalmente diferentes, duas visões do mundo diametralmente opostas e dois níveis de ambição completamente divergentes. Todos sabemos que Portugal está confrontado com grandes dificuldades e se depara com desafios gigantescos. As exigências são enormes e os sacrifícios pedidos às famílias e às empresas constituem um esforço patriótico significativo que nos devia obrigar, a todos, a revelar espírito de responsabilidade, de solidariedade e união.

Mas não! Não é nada disso que está a acontecer. A oposição parece estar apostada em criar dificuldades ao Governo e à estabilidade política. A oposição, de forma mais vincada aquela que ambiciona obsessivamente o poder, deseja que as coisas corram mal, que as contas se compliquem e, para tal, cultiva a falta de esperança, adopta o discurso da tanga, fomenta a intriga, estimula o aparecimento de casos políticos paralelos através de insinuações e meias verdades. E isto ao mesmo tempo que ignora que esta postura prejudica, acima de tudo, o próprio país. A tudo isto chamamos irresponsabilidade.

Quem visitou a mostra Portugal Tecnológico percebeu que o país real, felizmente, é composto por pessoas e organizações que optam por uma postura bem diferente daquela oposição derrotista. No Portugal Tecnológico, eu vi, de facto, um país mais moderno, mais dinâmico, mais empreendedor e mais confiante do que aquele que a tal oposição pessimista nos está a tentar vender. Eu assisti a uma nova forma de ver a energia e a mobilidade, toquei na inovação e vi empresas portuguesas inconformadas, ambiciosas e lutadoras, a apresentarem com orgulho os seus produtos que, nalguns casos, já dão cartas lá fora. Vi capacidade exportadora e senti mobilização. Tomei contacto com serviços públicos mais modernos, mais centrados nas necessidades dos cidadãos e das empresas e contactei com Universidades cada vez mais próximas da realidade das empresas. Naquela mostra vivi o ambiente das novas escolas portuguesas e constatei o dinamismo presente nas diferentes regiões portuguesas. Senti o bom gosto, a tecnologia, a cultura, a arte e a modernidade.

Provavelmente nenhuns daqueles que cultivam a desgraça e o desânimo foram ao Portugal Tecnológico, com receio de contágio e aversão à esperança e ao optimismo. Se foram, certamente contemplaram o que lhes entrava pelos olhos dentro com reservas e desconfiança, e não acreditaram que se tratava da vida real de muitos portugueses e das nossas empresas que, apesar das dificuldades, não baixam os braços. Esta oposição está, portanto, condenada a conduzir um carro modesto movido a gasóleo e a ser ultrapassada pelas viaturas já eléctricas e com tecnologia portuguesa incorporada. Mesmo que não sejam Ferraris!

Artigo publicado no Acção Socialista de 30 de Setembro de 2010.