26 março 2009

Inércia e silêncio!

Parece-me perfeitamente natural que um Governo eleito democraticamente tenha como função a tarefa de Governar. Na verdade, quando os portugueses foram a votos em Fevereiro de 2005, fizeram-no na certeza de que estavam a escolher um Governo que asseguraria a condução dos destinos do país ao longo de uma legislatura.

Por outro lado, parece-me igualmente evidente que o Governo, ao longo da sua acção, tenha a necessidade e até o dever de justificar as suas decisões e de comunicar as suas opções. A população tem, aliás, o direito a essa informação em nome da transparência que se espera em todo o processo governativo.

Embora estes dois aspectos me pareçam naturais e absolutamente evidentes, não o são para muita gente. Senão vejamos.

O PSD e o CDS têm vindo a público adjectivar de “eleitoralistas” muitas das propostas apresentadas e implementadas pelo Governo no âmbito da resposta à crise. Dizem eles que tais propostas, anunciadas em ano eleitoral, têm objectivos que visam apenas ganhar votos e não tanto resolver os problemas das pessoas. Mas pensemos um pouco no alcance destas acusações! Poderia o Governo de Portugal, face à crise que se vive hoje, anunciar ao país que não pode fazer nada pelas famílias e pelas empresas só porque estamos em ano de eleições? Seria desejável pedir às famílias e às empresas que esperem por Outubro para que o próximo Governo possa tomar medidas em seu favor e em seu socorro? Tem o país condições para perder todos estes meses que antecedem as eleições legislativas? Deveria o Governo ficar quieto?

Já a deputada do Bloco de Esquerda, Ana Drago, no seguimento do debate quinzenal de na Assembleia da República com o Primeiro-Ministro, vem sustentar que “na rede social Twitter, o Plano Tecnológico, produz comentários e afirmações que se limitam a fazer a defesa das propostas apresentadas pelo primeiro-ministro, José Sócrates”. Mais: Ana Drago, ignorando o facto do Gabinete do Pano Tecnológico ser um Gabinete Governamental, vem pedir explicações para aquilo que considerou uma “violação do princípio da independência entre o Estado e a Administração Pública”. Mas que democracia é esta defendida pelo Bloco de Esquerda? Nos debates no twitter ou nos blogues, o Governo não pode participar para sustentar, explicar e defender as suas próprias propostas? Para esta esquerda, o Governo deve reduzir-se a assistir ao que alguns vão dizendo através dos meios tecnológicos hoje disponíveis? Deveria o Governo ficar calado?

Ora, estes dois episódios caracterizam bem a nossa oposição. Para a oposição, o Governo deveria baixar os braços e calar a boca perante os problemas vividos em Portugal e no mundo. Para esta oposição, o Governo deveria assistir “quieto e mudo” à falência de empresas, à dificuldade das famílias em enfrentar estes tempos difíceis. Mas percebe-se bem este desejo da oposição em manter o Governo parado e calado. Ou não serão estes dois aspectos, inércia e silêncio, que melhor caracterizam esta oposição?

Artigo publicado no jornal Labor de 26 de Março de 2009 e no Acção Socialista de 7 de Abril de 2009.

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