03 setembro 2009

O "grupo"

Muitos não terão compreendido algumas das opções do PSD para as listas de candidatos a deputados à Assembleia da República. No entanto, se olharmos para trás, se juntarmos todas as peças que foram surgindo ao longo dos meses desde que Manuela Ferreira Leite (MFL) lidera o PSD, verificamos que este quadro não poderia ter um formato diferente. Mesmo com nomes como António Preto ou Helena Lopes da Costa, Alberto João Jardim ou Pacheco Pereira.

Desde logo porque se torna claro que MFL apenas dá a cara por um “grupo”, um conjunto de pessoas com interesses comuns, na sua grande maioria ligadas ao passado daquele partido mas que ainda ambicionam chegar novamente ao poder. MFL é, portanto, uma espécie de representante oficial desse “grupo” que via, obviamente, na formação do próximo grupo parlamentar do PSD a grande oportunidade de se começar a (re)organizar.

Voltemos ao início. MFL surge na liderança do PSD porque Filipe Menezes abandonou esse mesmo cargo, depois de ter considerado que não reunia as condições básicas para a governabilidade do PSD. Na verdade, não conseguiu nem a solidariedade dos “pesos pesados” do PSD nem unir o partido em torno do seu projecto político. Nos poucos meses que liderou o PSD, Menezes não teve sequer tempo para se revelar. Os seus inimigos internos não lhe deram nem descanso nem paz. Fizeram-lhe sempre a vida negra, melhor dizendo! Olhando para as listas agora apresentadas pelo PSD, lá estão muitos deles.

Depois, recorde-se que Passos Coelho apresentou-se também como candidato à liderança dos social-democratas mas não teve o tempo necessário para conseguir os apoios capazes de derrotar o tal “grupo” já organizado de Ferreira Leite. Olhando para as listas do PSD, percebe-se que ainda não lhe querem dar esse tempo.

Por seu turno, Santana Lopes, que representa também uma força importante dentro do PSD, há muito que era uma carta fora do baralho. Na verdade, foi o problema mais fácil de resolver! A estratégia passou por permitir que fosse candidato à Câmara de Lisboa e, olhando para as listas de candidatos do PSD à Assembleia da República, percebe-se que o preço que pagou pode vir a ser-lhe fatal.

Perante isto, parece-me por demais evidente o papel de MFL nesta passagem pela liderança do PSD. O objectivo, o único objectivo, era segurar o próximo grupo parlamentar, limpando todos aqueles que, objectivamente, pudessem ser futuros obstáculos ao tal “grupo” e integrando os que possam vir a ser úteis. O objectivo em ter MFL à frente do PSD nunca foi apresentar uma alternativa de governo ao PS e a prova é a apresentação tardia do pobre programa eleitoral, umas semanas antes das eleições. Não nos esqueçamos que Ferreira Leite já foi Ministra das Finanças, já foi Secretária de Estado do Orçamento, já foi Ministra da Educação. Pelo trabalho que desenvolveu naquelas pastas, fácil seria perceber que o objectivo do “grupo” não podia passar por tê-la como Primeira-Ministra de Portugal. Até porque no “grupo” há quem pretenda chegar lá primeiro!
Artigo publicado no Jornal Labor.