08 março 2011

Entre_linhas 117 (3março2011)

É suposto que quem tem por função a gestão de uma autarquia tome decisões após medir, dentro dos possíveis, a relação custo/benefício dessas mesmas decisões. Antecipar o impacto na vida das pessoas da utilização de dinheiros públicos, deve estar sempre na mente de quem tem a tarefa de decidir. Mas suspeito que nem sempre isso aconteça. Ora, de há uns meses para cá, em várias ruas da cidade, existe uma banda pintada de vermelho encostada aos passeios que, supostamente, seria destinada à circulação de bicicletas. Acontece, que até ao momento, ainda não vislumbrei qualquer bicicleta naquelas faixas vermelhas, o que não deixa de ser caricato. E isto parece indiciar que, de facto, aquele investimento não teve utilidade nenhuma para as pessoas, constituindo apenas um desperdício de dinheiro, que podia ter sido utilizado para financiar outras decisões que viessem a ter real utilidade. Por exemplo, quem anda nas ruas da nossa cidade, facilmente percebe que os sanjoanenses têm o saudável hábito das caminhadas, o que podia, portanto, merecer a atenção de quem utiliza o dinheiro público para tornar eficaz uma decisão. O dinheiro usado para as “bandas vermelhas” podia ter sido utilizado para arranjar alguns dos passeios que estão em más condições, dificultando a circulação de peões, em particular dos cidadãos com necessidades especiais, ou a utilização de carrinhos de bebé.

A Câmara Municipal de S. João da Madeira aprovou recentemente o projecto e a abertura do concurso público para a obra Oliva Creative Factory, um investimento que ronda os 5,7 milhões de euros e que pretende requalificar e aproveitar as antigas instalações da Oliva. As estimativas apontam para que a obra arranque já este Verão, para que estaja concluída até 2013. O projecto inclui a recuperação de dois edifícios, onde se instalarão um centro de indústrias criativas, um núcleo de arte contemporânea, espaços de formação em artes e ofícios, residência artística, unidades de incubação, business center, espaços comerciais e de restauração. Trata-se, de facto, de um projecto ambicioso, que pode trazer bastantes benefícios para a cidade e para toda a região, ao mesmo tempo que recupera e preserva aquele que foi um dos principais símbolos da pujança industrial de S. João da Madeira. É por demais evidente que o investimento na capacidade inovadora e criativa dos jovens dá frutos a médio/longo prazo e este projecto, perante o que se pode vislumbrar do que já se conhece, pode potenciar essa aposta. No entanto, diria que o mais fácil está feito, isto é, lançar agora o concurso para que tudo fique pronto precisamente no ano de eleições, em 2013. Explorar e desenvolver a ideia, conceber o projecto, lançar o concurso é, de facto, muito importante e, como já reconheci, parece-me um projecto bastante interessante. No entanto, mesmo depois da obra concluída, mesmo depois de paga, o crítico em equipamentos deste tipo é a sua exploração, dinamização e rentabilização. Nós somos um concelho pequeno, com um orçamento limitado e não podemos correr o risco de criar “elefantes brancos”, cuja sustentabilidade seria bastante difícil de assegurar. Espero que o projecto, para além dos “desenhos” técnicos, esteja acompanhado de um plano rigoroso dos custos e proveitos associados à sua manutenção, sob a pena de estarmos a criar um problema à cidade e não uma solução interessante para as expectativas dos nossos jovens.

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