07 julho 2011

Entre_linhas 131 (07julho2011)

Segundo parece, os agentes municipais começaram já a fiscalizar o pagamento dos parcómetros em S. João da Madeira. O automobilista autuado terá a possibilidade de pagar voluntariamente o valor de seis euros, o equivalente a um dia completo de estacionamento, evitando assim a contra-ordenação. Repare-se que para este tipo de acções os meios humanos aparecem sempre porque, do lado da receita, aparece sempre a forma de financiamento da estrutura. Confesso que já assisti a diversos episódios em que sanjoanenses se indignaram contra a intransigência e inflexibilidade das autoridades e, com esta medida, irei assistir a muitos mais. Castro Almeida, quando convidado a pronunciar-se sobre este tema no programa “Prestar Contas”, da Rádio Regional Sanjoanense, apelou aos sanjoanenses para que “cumpram as regras e paguem o parcómetro”, tendo ainda avisado que “depois escusam de tentar meter cunhas”. Parece-se um comentário infeliz de um responsável camarário que, com esta medida, não está minimamente preocupado com o comércio tradicional mas antes com a obtenção de receita para os cofres da autarquia. Se a Câmara estivesse interessada em melhorar a vida do comércio tradicional e na fluência do estacionamento, não tratava, por exemplo, a Praça como tem tratado nos últimos anos.

O Real Madrid acabou de concretizar a compra ao Benfica do Fábio Coentrão. Os valores do negócio rondam os 30 milhões de euros, impossíveis de cobrir pelo Benfica que, na verdade, não teve meios para lutar contra o bater das notas do gigante espanhol. De facto, os grandes clubes espanhóis ou ingleses acabam por poder contar com os melhores jogadores do mundo que, pelas cláusulas de rescisão obscenas que apresentam, não podem ser superadas pelos clubes de menor dimensão e que contam com menos meios financeiros. Transpondo esta lógica para o cenário empresarial, imaginem que, no sector das telecomunicações, a Telefonica Espanhola ou a Deutsche Telekom (Alemã) batem as notas para comprar a PT. Apesar da operadora portuguesa ser uma das maiores empresas do nosso país, ao lado das gigantes espanhola e alemã perde completamente a sua expressão. Ora, esta semana o Conselho de Ministros aprovou o fim da Golden Share que funcionava como uma espécie de poder de veto que o Estado português detinha sobre tentativas de aquisição por parte de outras empresas. Apesar de algumas instâncias europeias terem já tentado forçar o nosso país a tomar esta decisão, apesar do acordo da Troika apontar para esse cenário, do meu ponto de vista, o fim das Golden Shares torna as nossas empresas estratégicas mais vulneráveis a interesses de outras empresas de outros países de muito maior dimensão. O futuro, infelizmente, acabará por me dar razão.

Estas coisas não deixam de ter a sua piada! A propósito do corte do rating (downgrade) de Portugal por parte da agência da Moddy's, o Ministério das Finanças emitiu um comunicado que, algures, diz o seguinte: "O downgrade não terá tido em devida conta o amplo consenso político que suporta a execução das medidas acordadas com a troika, traduzidas numa votação de mais de 80% nos partidos que subscreveram os memorandos." Ora, ainda não há muitos meses, sempre que as agências americanas baixavam o nosso rating, lá vinha toda a oposição (incluindo PSD e CDS) dizerem que a culpa era do Governo que não dava bons sinais aos “mercados”. Foi preciso chegarem ao Governo para PSD e o CDS começarem a perceber que, na verdade, estas agências promovem a bandalheira financeira e não estão minimamente preocupados com os efeitos negativos dos seus comentários, feitos sabendo lá nós com base em que critérios? Mais vale tarde que nunca!

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