05 maio 2011

Entre_linhas 124 (5maio2011)

A Câmara Municipal de S. João da Madeira atribuiu 35 bolsas de estudo a estudantes do concelho que frequentam o ensino superior, valores que podem variar entre os 75 e os 200 euros durante 10 meses. Reconheço que se trata de uma medida importante, ainda para mais numa altura em que muitas famílias apresentam dificuldades evidentes para suportar os significativos encargos financeiros inerentes a um filho na Universidade. No entanto, precisamente pelo momento difícil que atravessamos, é que também acho que se poderia ir mais além. Perguntar-se-á se havia condições para a Câmara financiar ainda mais bolsas para além daquelas 35, uma pergunta que, aliás, tem toda a razão de ser. Em resposta eu diria que sim, havia condições. É tudo uma questão de prioridades. Ainda a semana passada dava conta de uma decisão camarária que visava a construção de um novo campo de futebol que custará cerca de 900 mil euros. Deste valor, uma parte será assegurada pela própria Câmara Municipal e a pergunta que eu faço é a seguinte: quantas mais bolsas de estudo seria possível financiar se se abdicasse da construção do novo campo de futebol? Os próximos tempos serão de enorme exigência e, portanto, há que definir, com rigor, prioridades na aplicação dos dinheiros públicos que, para serem canalizados para financiar determinada medida, deixará de ser possível utilizar no financiamento de uma outra medida qualquer. E é na definição dessas prioridades que se irá percebendo a sensibilidade de quem decide para determinados problemas.

Foi anunciado o acordo entre o Governo português e a chamada “troika” com vista à implementação de um plano de ajuda externa a Portugal. Ainda não são conhecidos, com rigor, todos os contornos do acordo mas, com a informação de que já dispomos nesta altura, podemos afirmar que muito do que se disse nas últimas semanas, de facto, era mera especulação. O acordo não mexe no 13º mês nem no 14º mês. Não haverá mais cortes nos salários da função pública, não está prevista a redução do salário mínimo e não há cortes nas pensões acima dos 600 euros, mas apenas nas acima dos 1500 euros. Obviamente que serão pedidos novos sacrifícios aos portugueses em troca desta ajuda agora conseguida mas tais sacrifícios são basicamente aqueles que estavam previstos no PEC4 que a oposição, recorde-se, chumbou na Assembleia da República e que originou a queda do Governo e a realização de eleições antecipadas. Não estamos em época de voltar a discutir culpas e méritos. Estamos numa altura em que é importante que haja serenidade, bom senso e sentido de responsabilidade nos actores políticos. O que está em causa é muito importante para o nosso futuro colectivo, decisivo para as famílias e para as empresas portuguesas. Sabemos que há sempre quem esteja contra porque ser do contra tudo é a génese da sua sobrevivência e da sua própria existência. Para esses, poderá ser também uma oportunidade de repensarem as suas estratégias e de reflectirem sobre aquilo que, de facto, interessa a Portugal e aos portugueses. E aos sanjoanenses, claro está!

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