25 março 2011

Barómetro da irresponsabilidade!

“O Barómetro da Marktest para a TSF e o Diário Económico revela que o PSD e o CDS/PP garantem mais de metade, 53%, das intenções de voto para a Assembleia da República. Sozinho, o PSD regista 46,7%, apesar de ter perdido um ponto relativamente a Fevereiro. O CDS/PP recupera 2 pontos e convence agora 6,3% dos 805 inquiridos. Com o centro-direita em alta, o PS perde 4 pontos em Março e regista 24,5% de intenções de voto, o segundo valor mais baixo desde que José Sócrates chegou à liderança do partido. O Bloco reconquista 3 pontos e está com 8,9%. A CDU sobe 6 décimas, convencendo 6,7% dos inquiridos. “ (in TSF)

Está a passar na TSF e nos jornais online a notícia destes resultados apurados no Barómetro da Marktest que até devem dar força a Passos Coelho e às suas tropas. A estratégia adoptada pelo PSD, que prejudicará certamente o nosso país, parece, assim e pelo menos aparentemente, estar a dar os resultados pretendidos pelo PSD: a vitória nas eleições que se adivinham e, consequentemente, o exercício do poder em Portugal.

Os comentários de um amigo num mail que me mandou, motivaram-me a fazer umas contas decorrentes da informação constante da ficha técnica deste Barómetro. Vou partilhar convosco as conclusões para sabermos bem daquilo que estamos a falar. Então é assim:

“Ficha Técnica da sondagem/estudo da Marktest para a TSF e Diário Económico: O trabalho de campo/recolha foi realizado entre os dias 18 e 23(sendo 18% das entrevistas realizadas na quarta-feira, dia em que, cerca das 21h00, José Sócrates apresentou a demissão a Cavaco Silva); Objectivo da sondagem: Análise da intenção de voto para a Assembleia da República e avaliação da imagem do Presidente da República, Primeiro Ministro e líderes do PSD, CDS-PP, CDU e BE.

Universo: População de Portugal Continental com mais de 18 anos e telefone fixo. Foram realizadas 161 entrevistas na Grande Lisboa, 89 no Grande Porto, 131 no Litoral Centro, 154 no Litoral Norte, 178 no Interior Norte e 92 no Sul. A taxa de resposta foi de 20,3%. 28,6% dos inquiridos deu como resposta: não sabe/não responde. Os indecisos e não votantes foram distribuídos de forma proporcional aos inquiridos que expressaram sentido de voto. Os votos brancos e outros foram ajustados com base nos resultados das eleições de Setembro de 2009. O intervalo de confiança é de 95 por cento. A margem de erro de 3,45.”


Colocando os números principais numa tabela para visualizarmos,melhor, temos o seguinte:




Resumidadmente, foram feitas 805 entrevistas e, tendo em conta que a taxa de resposta foi de 20,3%, estamos a falar de 163 respondentes, números distribuídos regionalmente da seguinte forma:

a) 161 entrevistas em Lisboa a que correspondem 33 respostas.
b) 89 entrevistas no Grande Porto a que correspondem 18 respostas
c) 131 entrevistas no Litoral Centro a que correspondem 27 respostas
d) 154 entrevistas no Litoral Norte a que correspondem 31 respostas
e) 178 entrevistas no Interior Norte a que correspondem 36 respostas
f) 92 entrevistas no Sul a que correspondem 19 respostas

Descontando as pessoas que não responderam ou que responderam “não sabe”, não distribuindo os indecisos, os não votantes e não ajustando os brancos e os outros de acordo com o referido na ficha técnica, tudo arredondado às unidades para não baralhar, do que, na verdade, estamos a falar é, em suma, muito perto do seguinte:

a) 117 foram as respostas efectivas nalgum dos 5 partidos referidos
b) No PSD votaram 54 pessoas e no PS apenas 29
c) Escolheram o CDS 7 pessoas, o BE 10 e a CDU 8
d) Em Lisboa, só 23 pessoas responderam e no Grande Porto apenas 13, assim como no Sul
e) No Sul o PS teve 3 votos, e os três partidos mais pequenos apenas 1.

E é, efectivamente disto que estamos a falar. Não sou dos que desvalorizam totalmente as sondagens e os estudos de opinião. Dou-lhes a importância que efectivamente têm, quer sejam favoráveis ou não aos que apoio. As sondagens valem o que valem mas há algumas que valem menos do que outras. Se calhar por ter formação na área da Matamética, gosto de aprofundar os números, de os escavacar, pois só assim os compreendemos melhor para deles tirarmos conclusões.

Sinceramente espero que não tenha sido com base neste barómetro que Passos Coelho e as suas tropas decidiram provocar eleições. A ficha técnica é frágil demais para se tirarem quaisquer conclusões. E, numa altura como esta, não podemos andar a brincar, de forma irresponsável, com coisas sérias!