24 maio 2011

Entre_linhas 126 (19maio2011)

Conheço um senhor que não teve a oportunidade de estudar. Era assim, em geral, no tempo dele. Apenas fez a 4ª classe, ainda por cima na tropa. Através do Programa Novas Oportunidades, conseguiu concluir o 9º ano de escolaridade e sente-se orgulhoso dele próprio. Os netos até o ajudaram na realização de alguns trabalhos. A idade da reforma aproxima-se a passos largos mas para este meu amigo isso não é importante. O importante é que atingiu uma meta que pensava nunca poder vir a alcançar. A sua auto-estima, o seu bem-estar, a sua confiança e segurança aumentou. Surpreendentemente (ou talvez não), nesta campanha eleitoral Pedro Passos Coelho exige uma auditoria externa ao Programa Novas Oportunidades, considerando que o programa tem sido no essencial uma "mega encenação paga a peso de ouro" para "atribuir uma credenciação à ignorância". Na minha opinião, estas declarações são absolutamente lamentáveis e ofendem todos os envolvidos: cidadãos que pretenderam aumentar as suas qualificações, professores, as próprias escolas e até, imagine-se, as entidades envolvidas na avaliação externa já realizada ao programa e que foi coordenada por Roberto Carneiro, um ex-ministro da Educação do PSD. Estas declarações demonstram que Passos Coelho não olha a meios para atingir fins! Imaginem-no, apenas por momentos, no exercício do poder!

O novo director da Casa das Artes e Criatividade, Fernando Pinho, percorreu as ruas de S. João da Madeira com o objectivo de aplicar um inquérito que visa conhecer os hábitos culturais da cidade. De facto, parece-me uma estratégia interessante no sentido de tomar as decisões mais acertadas em termos de programações futuras, embora reconheça que este tipo de informação deverá existir desde o início de todo o projecto, fundamentando a sua própria existência. Por outro lado, será redutor e um erro basear as apostas apenas naquilo que diz o público sanjoanense. Uma infra-estrutura como a que está a nascer terá que estar ao serviço da Cidade, mas também da região e até do país. Temos que mostrar a ambição de programar as acções para aquela casa de modo a que respondam às necessidades da própria região e, consequentemente, revelem a capacidade de atrair visitas à Cidade, ao centro da Cidade. Não podemos ignorar a necessidade de assegurarmos a sustentabilidade deste tipo de infra-estruturas, tanto mais que existem outros equipamentos como os Paços da Cultura, o Museu da Indústria de Chapelaria, a OLIVA Creative Factory (ainda em projecto) que também precisam de públicos da cultura. Eu diria que fazer a obra é apenas uma das componentes do projecto, ainda por cima a mais fácil. Haja dinheiro, ainda por cima em grande parte vindo de orçamentos que não o nosso, e o betão vai crescendo. O crítico em tudo isto é, por um lado, a animação permanente que começa apenas no dia em que o público entra pelas portas adentro e, por outro, a sustentabilidade. Espero que as coisas sejam desde já bem pensadas e, por isso, desejo grande sucesso ao novo director artístico.

Morreu o Sr. Cesário, um homem que dedicou grande parte da sua vida às causas da nossa Cidade. Foi membro da Assembleia Municipal durante mais de trinta anos, exercendo os seus mandatos com grande elevação e sentido de responsabilidade. Embora em bancadas diferentes, estive com o Sr. Cesário na Assembleia Municipal cerca de cinco anos e fui testemunha da postura sempre correcta e calma que este nosso amigo demonstrava, mesmo nos momentos de maior agitação, na altura em que o meu partido e o dele, o PS e o PSD, estavam na oposição. O Sr. Cesário amava a sua terra e por ela dedicou muita da sua energia e sabedoria. É, pois, hora de lhe agradecermos, assinalando este triste momento da perda de um homem bom. Até sempre, Sr. Cesário!

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