11 maio 2012

Entre_linhas 165 (10maio2012)

Estimular hábitos de participação cultural e democratizar o acesso à cultura é também uma função de uma autarquia. No entanto, independentemente da dinâmica cultural imprimida no nosso concelho, tenho sentido nos últimos tempos um desinvestimento em matéria de promoção do acesso a determinados eventos. Por exemplo, no Festival de Teatro deste ano o acesso foi pago em todas as peças, o que acabou por ocorrer pela primeira vez em seis edições já realizadas. Outro exemplo está relacionado com o acesso às peças de teatro infantis que, regularmente, passam nos Paços da Cultura. Já fui várias vezes e o acesso era pago pelas crianças, sendo permitido que fossem acompanhadas, como é óbvio e desejável, por um adulto. Da última vez, a semana passada, o preço da “experiência” foi significativamente superior. Por um adulto e duas crianças, o valor pago pelas entradas foi 10,50€ o que, convenhamos, não é convidativo. Resultado: a sala estava preenchida nem por metade da sua lotação o que, também para os artistas, não é nada agradável. Ora, se os bilhetes fossem mais baratos, provavelmente a participação seria superior e a receita arrecadada teria sido a mesma ou até superior. Por vezes, torna-se necessário tomar este tipo de opções que passam por praticar preços mais baixos mas que, do meu ponto de vista, acabam por trazer mais gente à cultura. E com essa maior adesão, todos ganhamos!

Há umas semanas atrás, no âmbito da reorganização administrativa territorial autárquica que se encontra na agenda política nacional, fiz referência neste mesmo espaço à possibilidade da freguesia de Milheirós de Poiares poder vir a ser integrada no concelho de S. João da Madeira. Ainda hoje há muita gente que considera este um cenário descabido e desprovido de qualquer possibilidade de concretização o que, manifestamente, não é verdade. Segundo o Regional, no passado dia 27 de abril, foi aprovado por maioria (cinco votos a favor e quatro abstenções) em Assembleia de Freguesia de Milheirós de Poiares, “uma moção que rejeita a possibilidade de extinção da freguesia e que, à luz da proposta de lei n.º 44/XII, já aprovada na Assembleia da República no dia 13 de abril de 2012, aprova a integração da freguesia de Milheirós no concelho de S. João da Madeira, por entender que esta é a vontade da esmagadora maioria da população da freguesia manifestada desde há 16 anos”. Ora, esta deliberação é muito importante e mostra que o cenário, de facto, pode ser uma realidade. Não compreendo, portanto, o silêncio da nossa autarquia em relação a esta matéria. Ou melhor, até compreendo! Castro Almeida, mais do que defender os interesses de S. João da Madeira, mais do que se preocupar em lançar a discussão no concelho para dar mais força à própria deliberação da Junta de Milheirós, mais do que tudo isso, está apostado no silêncio, não vá melindrar os seus amigos feirenses e beliscar os interesses, também legítimos, do concelho vizinho. Quando confrontado pelo jovem da bancada socialista Pedro Silva, também o Presidente da Junta de Freguesia de S. João da Madeira, Carlos Coelho, referiu não acreditar que esta alteração tenha parecer favorável ao nível do concelho da Feira, mostrando, também ele, pouco entusiasmo por esta possibilidade. Julgo que este é o momento para, de forma clara mas sem precipitações, manifestarmos aquela que é a nossa vontade. O debate está lançado e ignorá-lo é uma enorme irresponsabilidade. Pode estar em causa uma oportunidade histórica e estratégica que dificilmente se repetirá.