Entre_linhas 157 (8março2012)
Quando pretendemos desenvolver um certo projeto ou pôr em prática uma ideia qualquer, é de toda a conveniência recorrermos a quem mais sabe do assunto, não só para obtermos pistas de como prosseguir para termos maiores probabilidades de sucesso, mas também para evitarmos erros que já foram cometidos. Nesta perspetiva, do mesmo modo que decidir sobre o combate a incêndios obriga a que se fale com os bombeiros, é inevitável que para abordarmos o fenómeno da toxicodependência nos mereça total credibilidade a opinião do Trilho, uma valência da Santa Casa da Misericórdia de S. João da Madeira constituída por uma equipa de intervenção direta e um centro de atendimento e acompanhamento psicossocial a infetados e afetados pelo VIH. Numa altura em que o fenómeno da toxicodependência parece surgir na lista de preocupações dos sanjoanenses por causa da questão da Praça, diz-nos o Trilho que as maiores dificuldades sentidas no dia-a-dia prendem-se com a “adesão da população às medidas de apoio e à existência de serviços adequados, nomeadamente, cantina social, centros de alojamento temporário ou alojamentos com condições e preços baixos”, bem como aos cortes no financiamento de algumas iniciativas e projetos direcionados para a prevenção primária como o «Nós Jovens» e para a reinserção sócio-laboral como o «Trapézio com rede», estando agora a sua execução comprometida. Em particular neste momento propício à propagação deste tipo de fenómenos, importa ouvir quem sabe, quem tem uma visão concreta da população em causa, quem possui uma experiência acumulada de vários anos de contato com a dura realidade. Por isso é que eu nunca compreendi aquele projeto implementado em S. João da Madeira há uns anos atrás, designado por «Prevenir o Futuro» que o Presidente da Câmara acabou por afirmar que se tratou de um “ensaio de uma nova forma de intervenção que deu resultados palpáveis”. Ora, por questões de transparência, era bom que algumas dúvidas em relação a este projeto, hoje encarado quase como um tema tabu, fossem cabalmente esclarecidas pela autarquia. Por exemplo, quais foram os tais “resultados palpáveis” conseguidos? Quantos toxicodependentes aderiram voluntariamente ao projeto e quantos conseguiram deixar a sua situação de dependência? Qual foi o montante total envolvido na execução do projeto e quais foram as fontes para o seu financiamento? Este “ensaio de uma nova forma de intervenção”, que passou por um modelo de desabituação física diferente do tradicional, foi posteriormente adotado noutras experiências ou não? Houve validação científica desse modelo ou não passou de uma experiência isolada? Ora, até hoje nunca obtivemos quaisquer respostas a estas perguntas. Aliás, voltando à ideia explorada no início desta minha crónica, foi estranho que precisamente o Trilho se tenha afastado desde o início deste “ensaio” que suspeito tenha ficado bastante caro para todos os sanjoanenses. Com toda a certeza que o dinheiro gasto chegaria para manter vivos os projetos “Nós Jovens” e “Trapézio com rede” de que há pouco aqui se falava. Espero que desta vez a Câmara, para tirar os toxicodependentes da Praça, não se lembre de desenvolver um novo ensaio descoberto algures numa pesquisa na Internet!
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