26 janeiro 2012

Entre_linhas 152 (26janeiro2012)

“No final da década 50, passei em S. João da Madeira e o meu pai lançou-me um desafio: vamos ver quantas pessoas contamos sem chapéu!” Esta história foi-me contada pelo meu sogro que, ainda em criança, ficou a saber pelo seu pai que em S. João da Madeira a utilização de chapéus era bastante intensa. Hoje, já não será tanto assim, realidade que, aliás, se reflete na indústria predominante na nossa terra. Atualmente, neste setor, existe apenas a Cortadoria Nacional do Pêlo que, fundada em 1943, se dedica à preparação de pêlo de coelho, lebre e castor, para abastecimento da indústria de chapelaria e lanifícios; e a Fepsa, líder mundial no fabrico de feltros de qualidade para chapéus. Estas são precisamente duas das empresas que constam do roteiro intitulado Circuitos pelo Património Industrial que arrancou esta semana por iniciativa da Câmara Municipal de S. João da Madeira. Trata-se de um projeto que tem “por missão a projeção nacional e internacional do município de S. João da Madeira e consolidação e promoção da sua dimensão turística ligada à indústria”. O circuito começa pelo Museu da Chapelaria, passa pela centenária fábrica de lápis Viarco, única no país, estendendo-se a muitos outros espaços industriais como as fábricas de calçado Helsar e Evereste, bem como à Heliotextil, uma prestigiada fábrica de etiquetas e passamanarias. O percurso passa ainda pelo Centro de Formação Profissional da Indústria de Calçado e pelo Centro Tecnológico do Calçado de Portugal. De facto, este tipo de turismo, designado por turismo industrial, poderá ter uma importância bastante relevante na dinamização cultural e económica da nossa cidade. Para tal, como em tudo, é necessário, por um lado, grande qualidade e eficácia nas experiências fornecidas aos turistas e, por outro, um extraordinário trabalho de divulgação e dinamização de atividades específicas potenciadoras de angariação de visitantes. Fica o registo de uma iniciativa bastante interessante que poderá vir a ter grande impacto na nossa vida coletiva, saibamos nós potenciá-la. Para mais informações visite: http://csjm.gema.pt.

Por falar em museus, um tema ainda mal resolvido é a criação do Museu do Calçado, há muito reivindicado pelo Partido Socialista local. É certo que a Câmara tem previsto um núcleo museológico do calçado mas, na verdade, não é bem a mesma coisa. Para além de não poder ser integrado na rede nacional de museus, corre-se o risco de num destes dias, qualquer município, vizinho ou não, cuja atividade económica se centre, como em S. João da Madeira, no setor do calçado, venha a apresentar e a ver aprovada a instalação de um museu nessa área. A nossa história é a que é! Não temos outra! O nosso passado, assim como o nosso presente, são o que são e o orgulho que devemos sentir não se compadece como quaisquer hesitações no sentido do seu engrandecimento. Ora, o Museu do Calçado ajudar-nos-ia a reinventar o futuro, com orgulho precisamente no passado e no presente.

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