22 dezembro 2011

Entre_linhas 147 (22dezembro2011)

Há dois meses atrás, precisamente neste mesmo espaço de opinião, no seguimento da aprovação de uma proposta na Câmara Municipal que visa uniformizar as rendas das habitações sociais ocupadas por sanjoanenses, dizia eu que estávamos perante uma perigosa decisão sob o ponto de vista social. Isto porque estamos numa altura em que estão a ser pedidos especiais sacrifícios às famílias portuguesas como não há memória, no sentido de fazer face a uma situação grave que o país e a europa atravessam. Pedir mais este sacrifício de acomodar mais uma subida do valor de uma renda social (ou apoiada) não era oportuno nem sensato. Esta decisão, dizia eu na altura, acabaria por constituir mais um feroz ataque às famílias mais desfavorecidas.
Castro Almeida e a maioria que governa a nossa autarquia, ignorando os apelos do PS que na Câmara votou contra esta proposta, lá fez valer, naturalmente, o seu peso e aprovou sozinho esta alteração, com o argumento de que estaria a aplicar um princípio de justiça na definição dos valores das rendas a pagar pela habitação social que, no passado, por serem calculados com duas fórmulas diferentes, geravam algumas diferenças que importaria corrigir. No entanto, tal como se previa, o resultado final foi a subida de algumas rendas para valores que muitas famílias dificilmente conseguirão suportar. O sentido de oportunidade e de prudência nesta altura particular não foi, de facto, o melhor.
Se alguém pensa que estaríamos apenas no campo da especulação e do aproveitamento político, se tivesse assistido à primeira parte da última sessão da Assembleia Municipal, realizada no passado dia 15 de Dezembro, ficaria totalmente esclarecido. Foram várias as intervenções de munícipes que mostraram o seu caso concreto de subidas insuportáveis e descabidas para arrendamento social (é disto que estamos a falar), foram vários os gritos de revolta que se ouviram na plateia na altura em que Castro Almeida tentava justificar o que, objetivamente, é injustificável e incompreensível pelas pessoas que ali estavam.
Confesso que fiquei surpreendido e até chocado com alguns desabafos do Senhor Presidente da Câmara! Castro Almeida afirmou que “quem deve definir o valor das rendas é o computador” e até incentivou a que os cidadãos denunciem os seus próprios vizinhos caso sintam que estes estão a ser beneficiados. Senti Castro Almeida nervoso com todo este episódio, o que não deixa de ser curioso. E esse nervosismo resultou, provavelmente, do facto de estarem ali, olhos nos olhos, pessoas reais, com casos concretos a manifestarem a sua indignação face a uma decisão de Castro Almeida que, de facto, não gosta de ser confrontado e que odeia ser contrariado. O Presidente da Assembleia Municipal, também do PSD, lá tentou ajudar a minimizar o confronto, limitando com todo o rigor os tempos para as intervenções e tratando de forma incompreensivelmente austera os munícipes, mesmo antes destes tomarem a palavra. No entanto, o nervosismo e a inquietação das hostes do PSD estava lá, era visível para todos! Provavelmente de uma forma como nunca se viu ao longo deste últimos 10 anos de gestão do PSD da Câmara da nossa terra.
O Presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira está sozinho neste processo. E o ónus do que está a acontecer deve ser-lhe imputado em exclusividade. Mas, no final de todas as contas, fica um reforço de uma ideia que defendo há já algum tempo! Este executivo camarário não tem, de facto, sensibilidade social. Todos os dias temos confirmação disto mesmo! Afinal de contas, este episódio acaba por ser mais um exemplo dessa postura de insensibilidade para com aqueles que deveriam, justificar, no fundo, as nossas prioridades.

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