20 junho 2012

Entre_linhas 169 (14junho2012)

Desculpem voltar ao tema do hospital mas estou certo que a vossa preocupação é tão grande como a minha, o que justifica até que esta edição seja exclusivamente dedicada ao tema. Dizia eu a semana passada que, no seguimento do estudo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) que recomenda que na cirurgia geral com internamento os Hospitais com Serviço de Urgência Básica deixem de ter internamento da especialidade (como no caso do hospital de S. João da Madeira), o Presidente da Câmara de S. João da Madeira foi o único autarca dos municípios envolvidos nesta machadada que se escondeu atrás de “uma fonte” numa peça jornalística do JN sobre o assunto. Na edição d’O Regional da semana passada, desta feita, o Presidente da Câmara vem dar a cara para dizer que este documento “não acrescenta nem retira nada à realidade atual do nosso Hospital”, desvalorizando, portanto, o conteúdo do próprio relatório. Acrescenta que o nosso Hospital “desde há muito tempo não garante internamento de Cirurgia e Medicina Interna” o que, segundo o que me dizem alguns conhecedores do processo, não é de todo verdade. Isto porque há ainda uma médica que tem aguentado as questões relativas a Medicina Interna, até porque ainda existem situações de internamento nos casos de cirurgias em ambulatório que são realizadas ao final do dia. O próprio relatório, na página 98 diz isso mesmo. Ora, esta questão leva-nos a uma pergunta que muitos estarão a fazer neste momento e que, de facto, até faz algum sentido: afinal de contas, o que é que uma Câmara Municipal pode fazer numa situação destas? É óbvio que a decisão de fecho ou de manutenção do nosso Hospital não está, diretamente, nas mãos do nosso Presidente de Câmara mas, perante esta inevitabilidade, o que nós sabemos é o que a Câmara não pode fazer. De facto, o que a Câmara não pode fazer é baixar os braços, desistir deste assunto e aceitar de ânimo leve esta situação. Dizer que este relatório apenas “formaliza o que já não existia” é uma irresponsabilidade, consubstancia uma traição aos sanjoanenses e não é isso que os sanjoanenses esperam dos seus autarcas. Recordo que esta foi uma grande bandeira eleitoral nas últimas legislativas e mais importante do que sabermos que o deputado do PSD de S. João da Madeira “enalteceu o Governo pela apresentação, dentro do prazo, do plano de ação e valorização do litoral”, era sabermos o que é feita da sua promessa de defesa do Hospital, agora que o PSD está no Governo. Baixar a fasquia de exigência em relação ao futuro do nosso Hospital, neste momento, é um erro e pode ser fatal. Mesmo do ponto de vista da racionalização dos recursos públicos e da manutenção de cuidados de saúde de qualidade às populações, este Hospital pode desempenhar um papel muito importante para aliviar o Hospital S. Sebastião do fluxo de doentes que por lá passam. Recordo ainda, porque vale a pena fazê-lo neste momento, que existe um compromisso político do executivo camarário em manter os sanjoanenses devidamente informados do ponto de situação em relação a este processo, através dos partidos todos representados na Assembleia Municipal. Nas últimas semanas, muito já aconteceu e novidades, nem vê-las. Espero que este silêncio, como disse, aliás, a semana passada, não seja sinal de más notícias ou de compromissos escondidos e esquisitos assumidos nas tais conversas que a Câmara vai mantendo com o Ministério da Saúde, certamente alinhadas com uma estratégia de desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde que está em marcha. Entretanto, o relatório da ERS pode ser obtido em http://www.ers.pt/pages/73?news_id=435. Mesmo sendo de leitura complicada, vale a pena dar uma espreitadela.