08 julho 2012

Entre_linhas 171 (5julho2012)

É obrigação dos eleitos através do voto popular representarem os interesses e as ambições dos seus eleitores. E essa não é uma obrigação legal, de facto, embora se revele como uma obrigação ética e moral. Só assim se consegue manter uma relação de confiança entre eleitos e eleitores. Infelizmente, pelas mais variadas razões, vivemos um momento em que o distanciamento entre os eleitos e os eleitores é cada vez maior, havendo uma perceção negativa generalizada da política e dos políticos. E uma dessas razões tem que ver, precisamente, com o facto de muitas vezes não ser clara e inequívoca a defesa dos interesses das populações, uma vez que outros interesses, por exemplo, político-partidários, falarem mais alto. Ora, o nosso concelho está hoje confrontado com três grandes desafios, cuja importância é muito relevante para o nosso futuro coletivo o que, naturalmente, deveria motivar por parte dos nossos responsáveis autárquicos, dos nossos representantes, tomadas de posição firmes, sem ambiguidades nem hesitações. Infelizmente não é o que verificamos na questão do nosso Hospital, do processo relativo ao nosso Tribunal nem no dossier referente à intenção de Milheirós de Poiares em integrar o nosso Concelho. Há quem diga que são questões delicadas e que merecem prudência no seu tratamento. Concordo! Mas prudência não significa estarmos calados, à espera que outros decidam por nós, balizados pelos seus próprios interesses também legítimos. Recorde-se que a questão do nosso Hospital tem vindo a evoluir negativamente e por isso pergunto: que adiantou estarmos calados? Relembre-se que a proposta de Janeiro em relação ao futuro do nosso Tribunal mantinha o Direito Comercial na nossa esfera, mas a proposta agora em cima da mesa remete-o para Oliveira de Azeméis. Pergunto: Será prudente ficarmos calados em relação a esta matéria? A questão de Milheirós há 16 anos atrás esteve quase a concretizar-se e agora, novamente, está na ordem do dia, revelando-se como uma oportunidade única para se tornar efetiva. Pergunto novamente: será que apenas devemos olhar para o cenário com simpatia e deixar por sua conta a vontade dos milheiroenses? Não creio! Até porque, em nome da tal representatividade e da relação de confiança entre eleitos e eleitores, a população espera dos seus representantes outra coisa! Espera o óbvio: que lutem pelos interesses do coletivo. Nestes três processos, do meu ponto de vista e por prudência, não devia prevalecer qualquer hesitação!


Particularizando em relação a um dos processos, neste caso Milheirós de Poiares, esta semana o Partido Socialista, através dos seus eleitos para a Assembleia de Freguesia (AF) e Assembleia Municipal (AM), apresentaram no período Antes da Ordem do Dia das duas sessões um voto de congratulação relativamente ao desejo de Milheirós (expresso pelos seus eleitos na respetiva AF) de integrar o Concelho de S. João da Madeira. O Presidente da AF, eleito pelo PSD, lamentavelmente, não permitiu sequer que o voto fosse discutido e muito menos votado pelo plenário. O Presidente da AM, eleito pelo PSD, perguntou ao plenário se pretendia discutir o assunto mas a maioria PSD não quis fazê-lo e, portanto, também não o votou. Não tenho palavras para qualificar esta atitude do PSD local de nem sequer pretender discutir a questão. A que encontro que se ajustará mais ao ocorrido é: irresponsabilidade. Na verdade, estamos perante um caso de eleitos fugirem à sua obrigação de, inequivocamente, lutarem e trabalharem em prol do coletivo. Infelizmente, interesses político-partidários estão a falar mais alto. E isso é inaceitável.

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