06 dezembro 2012

Entre_linhas 187 (6dezembro2012)

Nos últimos dias temos assistido a uma autêntica novela em torno do Hospital de S. João da Madeira. Os jornais locais (e até o Jornal de Notícias) da semana passada traziam em grande destaque de primeira página que o Estado iria comprar o Hospital à Misericórdia de S. João da Madeira. Essas notícias foram avançadas nessa altura tendo como única fonte o Senhor Presidente da Câmara que garantia ter fechado um acordo com a ARSNorte que assegurava isso mesmo. Lendo as notícias interiores, lá estava o que todos temíamos: uma das partes do alegado acordo seria o encerramento das urgências (ou “consulta aberta” ou ainda “consulta de medicina geral”) entre as 0:00h e as 8:00h. Ora, aquilo que o Senhor Presidente da Câmara pretendeu fazer passar na comunicação social (e que, até ser desmentido e desmascarado pela própria ARSNorte, foi conseguindo) e que era a venda do Hospital pela Misericórdia ao Estado, parece ter tido, portanto, apenas um único objetivo: desviar a atenção dos sanjoanenses para aquilo que, de facto, parece estar em cima da mesa! E o que está em cima da mesa, como, aliás, o PS já tinha mostrado preocupação aquando da visita ao hospital a 17 de setembro, é o encerramento da urgência que é prestada no nosso hospital, o que é inaceitável. Todos conhecemos vizinhos, amigos ou familiares que esperaram 4, 5, 6, 7 e até 8 horas para serem atendidos nas urgências do Hospital da Feira, o que demonstra que, efetivamente, este serviço não serve, com a qualidade e eficiência desejadas, a população sanjoanense. E por isso, continua a fazer sentido o reforço dessa valência em S. João da Madeira, como dissemos a 17 de setembro, e não o contrário. Desmantelar a urgência (ou a consulta aberta) no Hospital de S. João da Madeira é prejudicar a população sanjoanense, e isso parece-me evidente! E a população, sabendo disso, rejeitará a solução, como é óbvio. E sabendo disso é que a estratégia do Senhor Presidente da Câmara passou por desviar as atenções da população, trazendo para a baila um acordo que, afinal, não existe. E sobre algo que não existe, não nos pronunciamos. Se me perguntam se concordaria com a venda do Hospital ao Estado eu respondo que nada terei a objetar, sendo que tal decisão compete, obviamente, à Santa Casa (vendedor) e ao Ministério da Saúde (comprador). Aliás, esta venda até permitiria que a Santa Casa conseguisse um encaixe financeiro significativo, dotando-a de recursos financeiros para fazer face à sua missão tão importante para cidade, especialmente no momento difícil para muitas famílias. Desse ponto de vista, o negócio era vantajoso para a Santa Casa e, portanto, para o concelho. Se me perguntam se concordaria com o encerramento da urgência entre as 0:00h e as 8:00H eu respondo, de forma inequívoca, não, não concordo. Ora, como não existe qualquer acordo em condições de ser assinado, como veio a público dizer a própria ARSNorte, associar as duas coisas é demagógico e irresponsável. Este assunto foi tratado de uma forma que pode, inclusivamente, prejudicar o andamento de todo o processo e isso é igualmente inaceitável. Repare-se que o próprio Presidente da Câmara refere mesmo que não lhe “custou muito concordar com o encerramento deste serviço [urgência] a partir da meia noite” e esta frase, do meu ponto de vista, diz tudo. Ora, eu discordo totalmente desta posição! A mim custa-me concordar com esse encerramento e tudo farei para o evitar, tendo consciência daquele que é o meu papel e o meu poder de influência, ambos reduzidos. Lamento é que a nossa Câmara Municipal, institucionalmente, esteja neste processo com este espírito entusiasmado de abertura à possibilidade de encerramento da urgência e não defenda o interesse e o sentimento da população sanjoanense. Basta recuar um ano e pouco para trás para percebermos que tudo isto não faz sentido! Infelizmente para os sanjoanenses!

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