21 setembro 2012

Entre_linhas 177 (20setembro2012)

Qualquer um de nós faz asneiras. Qualquer um de nós já tomou decisões erradas e opções que se vieram a verificar inadequadas. Isso aplica-se aos indivíduos, às empresas, aos governos. Em Portugal (e permitam-me que reduza o raciocínio ao período após o 25 de Abril de 1974), os vários governos que desempenharam funções também cometeram os seus erros, alguns deles com maior impacto que outros, é certo. O que sabemos é que no momento de qualquer decisão há sempre quem a defenda e quem a critique. Tudo isso é normal. O que já não é normal é que uma medida tomada pelo governo não sirva ninguém e seja criticada por toda a gente. Ora, isso aconteceu precisamente com a anunciada redução da Taxa Social Única (TSU) para a empresas, em detrimento de uma subida para os trabalhadores, com o argumento de que esta medida vem promover o emprego e a competitividade das empresas. Acontece que os sindicatos, desde os mais radicais aos mais moderados, criticam a medida, as empresas, desde as pequenas até às grandes passando pelas médias, rejeitam a medida. Os académicos, especialistas neste tipo de matérias apresentam estudos que apontam impactos precisamente no sentido contrário aos que são esperados pelo Governo. A opinião pública, toda a opinião pública, incluindo a publicada, se revoltou com esta aberração. Os partidos políticos, incluindo os que suportam a maioria, curiosamente, não apoiam esta intenção. Esta rejeição generalizada de uma medida vem inaugurar, na verdade, uma nova forma de fazer política que espero que, rapidamente, venha a ser abandonada. O Governo não pode e não deve tomar este tipo de medidas sem ter qualquer sinal de que terão o consenso mínimo na sociedade portuguesa. Os portugueses já estão massacrados com um nível de austeridade insuportável! Pedir-lhes mais sacrifícios, desta forma e sem que ninguém os compreenda, é um risco. O resultado foi esta confusão toda que está instalada em torno da coligação, o que prejudica em grande medida as condições para a condução saudável dos destinos do país, nesta fase crítica. E eu que pensei que na vida política já tinha visto tudo!



No passado fim-de-semana estive no Porto, no meio de milhares de pessoas, na gigantesca manifestação convocada espontaneamente pela “sociedade civil”. O sentimento era geral: esta política não serve o nosso país, não serve os portugueses. Alguma coisa tem que ser feita e não só o Governo mas também os partidos da oposição, todos eles, deverão retirar ilações daquilo que se passou. Era péssimo para a democracia portuguesa que as pessoas não sentissem que algo aconteceu no seguimento daquela expressão generalizada de indignação. Isso seria um erro colossal, seria alimentar um barril de pólvora que um dia pode rebentar, com consequências catastróficas para a organização do nosso país. Estou certo que todos fomos convocados para uma reflexão!



No passado domingo viveu-se outro acontecimento particularmente importante para o nosso concelho. Foi realizado o referendo local em Milheirós de Poiares viabilizado recentemente pelo Tribunal Constitucional. Os resultados foram claros: 80% dos votos expressos foram no sentido do SIM, ou seja, da concordância com a integração da sua freguesia no concelho de S. João da Madeira. Já ouvi interpretações dos números que insultam os valores e as regras democráticas mas, a verdade inquestionável é que se confirma a vontade expressiva e determinada dos milheiroenses em integrar o concelho de S. João da Madeira. O passo que se segue é a discussão e deliberação por parte da Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira. Espero que impere o bom senso e que a vontade da população seja respeitada. Afinal de contas, não é isso a democracia?