30 abril 2010

Entre_linhas 86 (29abril2010)

“Considera-se aprovada a proposta de encerramento do estabelecimento e actividade da insolvente e liquidação do activo da massa insolvente”. Foi assim que a juíza do Tribunal de S. João da Madeira declarou o fim da Oliva, uma empresa que já deu emprego a mais de 3 mil pessoas, cujo espaço de implantação ocupa uma significativa franja de terreno no coração da cidade. Todos temos alguém na família que já trabalhou naquele que já foi, seguramente, o símbolo da pujança industrial de S. João da Madeira, o que demonstra bem a importância que esta empresa assumiu na realidade económica, social e até cultural deste concelho. É por isso que ninguém fica indiferente a este encerramento que, mesmo assim, já se vinha adivinhando de há uns meses para cá, face às graves dificuldades financeiras que a empresa vinha atravessando. O fim da Oliva, para além de arrastar para o desemprego os actuais 180 trabalhadores, encerra também um capítulo importante da nossa história colectiva. Daí que seja importante pensarmos bem aquele espaço, aquela infra-estrutura, cujo destino poderá ainda vir a ser bastante relevante para a nossa terra. Espero que aqueles que gerem os nossos destinos tenham a vontade, a força, a determinação, o engenho e arte suficientes para que todo aquele terreno, cheio de história, não venha a ser apenas um amontoado de prédios que, certamente, seria ainda mais corrosivo para o nosso futuro do que a ferrugem que ainda saía há bem pouco tempo das chaminés da Oliva. Passe os olhos na magnífica Fotogaleria que o Jornal Público dedicou recentemente à Oliva. http://static.publico.clix.pt/docs/economia/fimdaoliva

O cidadão não possui, na maioria das vezes, toda a informação que lhe permite perceber o verdadeiro impacto de uma determinada opção política. Ora, numa reunião de Câmara recente, foi aprovada a nova tabela de taxas a praticar em S. João da Madeira da qual, segundo as notícias vindas até agora a público, pouco mais se sabe para além do facto de que não será cobrado aos munícipes do concelho o serviço de cremação. Obviamente que estou totalmente de acordo com a medida mas, por questões de transparência, era importante percebermos de quanto é que estamos a falar em termos de receita que deixará de ser cobrada, para entendermos o genuíno esforço que o município está a fazer com esta medida. Claro que a questão do princípio é fundamental e aí estou totalmente de acordo com o Senhor Presidente da Câmara quando refere que, “ao contrário do que acontece com os impostos, as taxas só devem ser pagas quando o cidadão puder escolher entre usar ou não usar um determinado serviço, o que não é manifestamente o caso da cremação”. No entanto, este princípio, com o qual concordo, é válido agora como era válido há oito anos atrás. Ou a Câmara vai devolver aos sanjoanenses o dinheiro cobreado ao abrigo de taxas que ferem este princípio? É, de facto, muito forte a tentação de se usar a demagogia como arma política. Ou será que a nova tabela de taxas contém alguma questão que é importante manter longe da atenção dos cidadãos? Estejamos, portanto, atentos às próximas notícias sobre o assunto!

15 abril 2010

Entre_linhas 85 (15abril2010)

O Relatório de Contas da empresa municipal Águas de S. João refere que apenas 33 por cento da água consumida vem de captações próprias. Por outro lado, o sistema de abastecimento de água continua com perdas na ordem dos 30 por cento, sendo a água perdida e não contabilizada em 2009 quase tanta como a facturada a consumidores não domésticos. Há muito que os sanjoanenses têm consciência de que a rede de abastecimento de água precisa de melhorias e há muito que tais investimentos são adiados. A única decisão radical que foi tomada nos últimos anos foi a privatização parcial do sector, decisão que, do meu ponto de vista, não deveria ter sido tomada. Quanto ao resto, tentei encontrar na Internet este Relatório, mas não tive sucesso. Para esta referência ao assunto, as minhas fontes foram, portanto, as notícias do Labor e do Regional, esta última bastante próxima à nota que consta do site da Câmara Municipal de S. João da Madeira. Por questões de transparência, este relatório deveria estar mais acessível para poder ser consultado livremente. No site onde tal deveria ocorrer, nada encontramos senão esta referência: “Brevemente on-line…” http://www.aguasdesjoao.pt

Pedro Passos Coelho é já Presidente do PSD. Todos os seus companheiros, pelo menos nesta primeira semana, estão do seu lado, criando-se no país a imagem de união. De facto, Portugal já há muito que não tem visto uma oposição forte, credível. Nos últimos tempos, temos vista a oposição, da esquerda à direita, com uma única estratégia baseada na “caça ao homem” sem apresentar ideias e com uma única preocupação: destruir, nem que para isso se formem no Parlamento as chamadas coligações negativas e contra-naturas. Passos Coelho tem, na verdade, um grande trabalho pela frente: fazer com que o PSD ganhe a credibilidade que tem vindo a perder ao longo do tempo. E demonstrar que a oposição serve, de facto, para alguma coisa! Para isso, o sentido de responsabilidade deve ser a palavra de ordem. Se assim for, ganhará, em primeira linha, o país e os portugueses.

Durante o tempo em que passei pela Faculdade de Ciências da UP a tirar o curso de Matemática, alguns professores iam colocando os problemas que ainda ninguém, no mundo, tinha resolvido. Quem os resolvesse ficava rico, uma vez que estavam associados milhares de “contos” de prémio para quem conseguisse descobrir uma solução. O Instituto de Matemática Clay (CMI), uma fundação privada com sede em Cambridge, Massachusetts (EUA), instituiu em 2000 o Prémio Milénio no valor de um milhão de dólares, para quem conseguisse resolver cada um dos sete problemas matemáticos mais difíceis de sempre e ainda por resolver na entrada do novo milénio - as “sete maravilhas” da matemática. Em 2002, o matemático Grigory Perelman resolveu um deles: a conjectura de Poincaré, inserida numa área da matemática chamada Tipologia. No entanto, só no passado dia 18 de Março é que o CMI anunciou o prémio, alegando- -se que “a resolução da conjectura de Poincaré por Grigory Perelman (...) constitui um avanço fundamental na história da matemática, que ficará na memória durante muito tempo”. Perelman, um matemático russo de 43 anos, excêntrico, é definido como a “imagem escarrapachada do “génio maluco”, com barba comprida e cabelo desgrenhado, unhas sem cortar há meses, olhar intenso, magro, mal vestido, de higiene duvidosa”. Contudo, muitos dos génios que ao longo dos tempos fizeram avançar a ciência, as artes, a cultura e o mundo, também o foram. Perelman consegue ir um pouco mais além, imaginem! Recusou o prémio “alegando que, pela solução do problema, o reconhecimento já era suficiente!”

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09 abril 2010

Entre_linhas 84 (8abril2010)

A iniciativa «A minha Rua», disponível a partir do Portal do Cidadão, é um projecto de participação cívica que permite o envolvimento activo do cidadão na gestão da sua própria rua ou bairro. Através deste espaço, o cidadão pode comunicar problemas com que se depara diariamente no seu próprio espaço, tais como a necessidade de intervenção na via pública ou a manutenção de equipamentos públicos. Pode ainda sugerir melhorias directamente à sua Câmara Municipal, sendo possível assinalar num mapa interactivo o local exacto que carece de intervenção ou mesmo enviar uma foto que ilustra o facto que está a ser reportado. A plataforma possibilita, ainda, a consulta da evolução do tratamento dado ao caso, responsabilizando, desta forma, aqueles a quem compete resolver o problema identificado. Trata-se, portanto, de uma iniciativa que estimula a intervenção directa do cidadão na vida do seu município. Já vários concelhos do país aderiram a esta iniciativa e no distrito de Aveiro, por exemplo, já podemos encontrar Ovar, Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra. Seria interessante vermos S. João da Madeira na lista de concelhos onde este serviço está disponível. Desse modo, eu próprio já tinha dois buracos a reportar na minha rua para os quais, pelo sim e pelo não, já tirei a respectiva fotografia.
A minha Rua

Évora, a Cidade Património Mundial da Humanidade, é a primeira metrópole portuguesa a receber a rede inteligente de energia. Trata-se de uma rede que, ao potenciar a eficiência energética, a microprodução e a mobilidade eléctrica, vai constituir um exemplo de sustentabilidade para todo o País. Imagine, por exemplo, que tem um contador inteligente em casa, que reflecte de imediato, sob o ponto de vista do consumo energético, todos os seus actos, ou seja, que lhe mostra em tempo real aquilo que está a gastar (em euros) de energia eléctrica tendo uma determinada luz acesa ou um stand by de um televisor ligado. Imagine também que, como consumidor, se torna também produtor e vendedor de energia e que pode instalar mais facilmente painéis solares fotovoltaicos ou pequenas turbinas eólicas em sua casa, assim como vender energia à rede se assim o desejar. Pense na possibilidade, em caso de avaria numa zona residencial, da produção de uma casa ou de um conjunto de vizinhos poder assegurar o fornecimento de electricidade a várias outras casas ou até a todo o bairro. Conceba a hipótese de ter um carro eléctrico, cujo abastecimento está assegurado não só em postos públicos mas também na sua própria garagem, à noite, quando não o está a utilizar. Pois bem, isto vai acontecer durante 2010, em Évora, que se tornou esta semana a InovCity, um projecto-piloto ambicioso liderado pela EDP que, vai combinar uma série de tecnologias e dar corpo a algumas iniciativas decorrentes do Plano Novas Energias apresentado recentemente pelo Governo. Nos próximos anos, tudo isto será alargado a todo o país. http://www.inovcity.pt

02 abril 2010

Entre_linhas 83 (1abril2010)

A semana passada, O Regional dava conta que a rede pública de Internet SJMINTELIGENTE tem estado sem sinal, o que, na verdade, não é propriamente uma novidade. De facto, desde o início da sua apresentação que este projecto, assumido como piloto, não tem passado de uma intenção. Recorde-se que se trata de uma iniciativa da autarquia que, em Outubro de 2007, anunciava a tentativa de cobertura total do território municipal de acesso gratuito à Internet sem fios em Banda Larga. Como todos os projectos-piloto, compreende-se que haja algum tempo de experimentação no sentido da consolidação da tecnologia. No entanto, julgo que terá já passado tempo demais para que possamos ter mais informação em relação ao futuro e aos resultados da experiência já adquirida. Era importante, por exemplo, sabermos desde já como é que autarquia pensa sustentar financeiramente a continuidade deste projecto que, embora desenvolvido numa área geográfica relativamente reduzida, não deixa de ter custos associados à tecnologia utilizada e à rede de comunicações. Esperemos, portanto, que comecem a surgir algumas respostas a várias dúvidas que se levantam. Já agora, eu até que gostaria de experimentar a rede mas, infelizmente, pelas bandas da minha casa, sinal, esse, nem o vejo!

Pedro Passos Coelho ganhou as eleições do PSD com uma margem acima dos 60%. De facto, o apoio que conseguiu dentro daquela estrutura partidária foi significativo e rompe com o que havia acontecido no passado recente com Marques Mendes, Filipe Menezes e Ferreira Leite. Aparentemente, estão reunidas todas as condições para passarmos a ter um PSD organizado, mobilizado, com sentido de responsabilidade e isso, só por si, é importante para o país. Portugal precisa, obviamente, de um governo forte e com condições de governabilidade. Mas Portugal também precisa de uma oposição credível e, acima de tudo, responsável e que não se perca em questões secundárias, que se centre na verdadeira política, naquilo que verdadeiramente interessa aos portugueses. Do Bloco, do PCP ou do CDS não se esperará nunca grande coisa para além da demagogia do costume. Do PSD esperar-se-á sentido de Estado e de responsabilidade, principalmente numa altura difícil da nossa vida colectiva como a que estamos a atravessar. Ora, o facto de Passos Coelho não ser deputado, de não o terem deixado ser deputado, pode fragilizar a estratégia, pode fazer com que seja difícil falar a uma só voz. E esse é, desde logo, o primeiro desafio que Passos Coelho tem pela frente. E esperemos que, para tal, não tenha que accionar a “lei da rolha” recentemente aprovada em congresso do seu próprio partido.

Em política, nem sempre a existência de um vitorioso implica a existência de derrotados. No entanto, parece-me claro que, desta vez, podemos afirmar que Rangel, Aguiar Branco e Castanheira Barros saíram mesmo perdedores. E com eles os respectivos apoiantes. Ora, foi público o apoio dado pelos social-democratas sanjoanenses a Rangel e este facto, independentemente do que vier a acontecer daqui para a frente, não deixa de ser merecedor de registo!

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