27 abril 2012

Entre_linhas 163 (26abril2012)

No âmbito do processo da minha candidatura à presidência da concelhia do PS de S. João da Madeira, realizei uma sessão de esclarecimento dirigida a militantes, onde fiz a apresentação dos motivos que me levaram a tomar esta decisão. Na fase de debate, onde a conversa escorregou também para temas de política nacional, impressionou-me muito a quantidade de pessoas que, face ao que vai acontecendo no país, falaram em falta de liberdade, do regresso de uma forma de ditadura perigosa, por ser, de certa forma, legitimada pelo voto. Esta semana, em que curiosamente se comemora o 25 de Abril, a leitura da realidade realizada por muitos naquela sala estendeu-se a muitas outras figuras de relevo nacional. A Associação 25 de Abril e Mário Soares, por exemplo, recusaram-se a participar nas comemorações oficiais do Dia da Liberdade, tratando-se de uma atitude com grande carga política e simbólica. Mário Soares refere mesmo que “o 25 de Abril foi uma grande revolução, pacífica” e que “a política que se está a seguir é uma política contra, realmente, aquilo que é o espírito do 25 de Abril”. Ora, o ambiente que se vive em Portugal não é, de facto, animador. Os valores de abril andam pelas ruas da amargura mas o pior que podíamos fazer seria desistir. Portugal é um grande país, com uma enorme história, digna de respeito universal e cheia de sucessos. Estamos, é certo, a passar por momentos de grande dificuldade, mas não podemos baixar os braços. Não nos podemos resignar e conformar, porque dessa forma seríamos mais fáceis de moldar, de vergar. Há que reagir e, na verdade, reagir, por vezes, obriga-nos a falar alto, a tomar decisões difíceis e complexas, a tomar atitudes como aquela que Mário Soares tomou. Abril também nos deu isso mesmo: a liberdade de protestar e de mostrar a nossa indignação. Quem não compreende isto, também está a deturpar Abril!

 Ficamos a conhecer a semana passada os valores dos apoios concedidos pela Câmara Municipal às associações desportivas, ao abrigo dos contratos-programa assinados com esse objetivo específico. Os cerca de 380 mil euros (menos 36 mil do que o apoio financeiro atribuído em 2011) serão atribuídos a 20 clubes/associações, que albergam 1720 atletas em 22 modalidades. A Associação Desportiva Sanjoanense, que vive as dificuldades financeiras conhecidas por todos, teve uma redução do apoio em 30 mil euros, sendo ainda de referir que só esta coletividade da cidade, dos tais 380 mil euros, recebe 276 mil. Por questões de transparência, era importante que a Cidade e os sanjoanenses conhecessem o teor de todos os contratos-programa para que pudessem, de sua justiça, avaliar o que de facto está previsto como compartida do recebimento de todo este dinheiro público. Estou convencido que esta questão da transparência se vai exigir cada vez mais a quem gere dinheiros públicos e nessa matéria, como sabemos, em S. João da Madeira ainda temos muito que aprender.

15 abril 2012

Entre_linhas 162 (12abril2012)

A Câmara Municipal desdobra-se em ações desesperadas com vista a explicar o que, na prática, ninguém sente: que o preço da água em S. João da Madeira é mais baixo do que na maioria dos concelhos do país. Apesar de vários estudos o contrariarem, apesar dos sanjoanenses sentirem no bolso a pesada fatura, o Senhor Presidente da Câmara lá consegue encontrar uma forma de ver o assunto numa perspetiva que lhe é mais favorável, baralhando os números, é certo, mas não conseguindo baixar a conta que todos pagamos ao final de cada mês. Mesmo sabendo que está previsto um aumento do preço da água lá para Setembro, o Presidente da Câmara sente-se “satisfeitíssimo” com a parceria da água, dizendo mesmo que este negócio “está longe de ser um negócio da China para a empresa parceira”. Qualquer dia tentarão vender a ideia de que a empresa até está com dificuldades por estar a fazer um grande favor aos sanjoanenses! O tempo acabará por dar razão a todos aqueles que, como eu, acham que este negócio não foi bom para o nosso concelho. Os sinais que já existem não oferecem grandes dúvidas!

Quem como eu anda na vida política fica, obviamente, apreensivo com a imagem que as pessoas, em geral, vão tendo dos políticos e dos partidos. Existe uma tendência generalizada, cada vez mais comum, em dizer-se que os políticos são todos iguais e que fazem todos a mesma coisa. É claro que eu não entro nesse registo, tanto mais que acredito, convictamente, que há muita gente que está na política por reconhecer que essa é a melhor forma de tentar fazer algo pelo bem comum, no sentido da construção de um mundo melhor, de um país melhor, de uma cidade melhor! Infelizmente, quase todos os dias somos confrontados com determinadas atitudes de políticos com responsabilidades que prejudicam a imagem de toda a classe política, uma vez que dá origem, precisamente, a inevitáveis generalizações. Ora, esta semana o Primeiro-Ministro (PM) de Portugal deu um grande contributo para esse campeonato por ter mentido duas vezes! Uma de forma explícita e outra por omissão. A explícita ocorreu com o episódio da reposição dos subsídios de Férias e de Natal que, ao contrário do que tinha dito em Outubro, não vão ser retirados apenas em 2012 e 2013. O PM podia até dizer que não havia condições para a reposição daqueles subsídios antes de 2015! Agora, vir dizer que não disse o que toda a gente ouviu, fica-lhe mal e fere de morte a relação de confiança entre o político e o cidadão eleitor! A outra mentira, desta feita por omissão, teve que ver com a aprovação de um diploma em Conselho de Ministros que proíbe a antecipação das reformas, diploma esse que foi, deliberadamente, mantido em silêncio, até à sua publicação em Diário da República, por se temer uma corrida às reformas antecipadas. Trata-se de uma atitude que, acima de tudo, revela falta de lealdade para com os portugueses e até, de certo modo, uma traição. Do meu ponto de vista, esta semana, com estes dois episódios, o PM deu uma péssima imagem dos políticos, contribuindo para a sedimentação da tal imagem negativa do exercício da política. Assim não vai ser fácil fazer com que os portugueses compreendam o que se vai passando no país!

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06 abril 2012

Entre_linhas 161 (5abril2012)

São públicas e notórias as graves dificuldades financeiras da ADS (Associação Desportiva Sanjoanense) que têm, aliás, gerado grande instabilidade na gestão do próprio clube. Ser dirigente desportivo nesta altura, tendo pela frente um clube com os problemas com aqueles que a Sanjoanense apresenta, é um ato de coragem mas também de grande apreço pelo clube da terra que, convém referir, proporciona a milhares de jovens sanjoanenses a prática desportiva. Esta semana, tal como o vice-presidente Vasco Gama e o diretor do departamento de futebol sénior Alfredo Silva, o meu amigo José Brito demitiu-se das funções de treinador da equipa sénior e de coordenador da formação de futebol, o que constitui uma grande perda para toda a estrutura, tal é a qualidade do seu trabalho. O próprio presidente do clube, a quem endereço um abraço de apreço, já anunciou que colocará o seu lugar à disposição na Assembleia Geral prevista para esta noite, fazendo antever novos problemas, caso se venha a verificar um vazio diretivo. Não é fácil a situação, de facto. No entanto, estou certo de que serão encontradas soluções que possam trazer alguma estabilidade à Sanjoanense para que possa levar por diante um projeto que permita criar as condições de sustentabilidade financeira do clube. A cidade precisa que a ADS encontre o seu caminho. Esperemos que a Assembleia de hoje ajude nesse sentido.

Nos dias que correm, ainda por cima num contexto de grave crise económica e financeira, o exercício da atividade política é visto de forma não muito abonatória. Apesar de muitos acharem que foram, em geral, os políticos que nos trouxeram a esta situação, eu sou daqueles que acreditam que é através da política que conseguiremos criar as condições que nos permitirão dar passos em frente, no sentido da esperança num futuro melhor e da construção de um mundo mais justo. Desvalorizar a atividade política, denegrir aqueles que, de forma profissional ou não, se dedicam à política, entrar na tentação que dizer que os políticos são todos iguais, é criar ainda mais problemas à nossa democracia e à nossa vida coletiva. Embora reconheça que os tempos não estão fáceis e que seria bem mais cómodo deixar estes momentos atribulados passarem, considerei que estava na hora de avançar para a liderança de um projeto que visa, acima de tudo, renovar a ambição do Partido Socialista local e, consequentemente, da própria cidade. Decidi, portanto, candidatar-me à presidência da Comissão Política concelhia do PS com uma forte determinação em dar o meu contributo para que o PS se torne ainda mais forte, mais interventivo e com a capacidade bastante para, ativamente, contribuir para a construção de uma cidade mais solidária e sustentável.

A propósito, há duas semanas atrás, o meu amigo Paulo Guimarães que, tal como eu, partilha neste mesmo jornal as suas opiniões semanalmente, referiu-se precisamente à minha candidatura à liderança do Partido Socialista de S. João da Madeira. E fê-lo de forma simpática, cordial e com grande amizade, apesar de estarmos em lados opostos da luta política. Endereço-lhe, portanto, um abraço de agradecimento por tal referência.

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